quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Depois da guerra, Hamas ganha força e Autoridade Palestina se enfraquece


Esta é uma semana movimentada no Oriente Médio. E, mais especificamente, em questões importantes envolvendo o conflito árabe-israelense e, ainda mais pontualmente, o conflito palestino-israelense. Nesta quinta-feira, o presidente Mahmoud Abbas pedirá o reconhecimento de um Estado palestino na Assembleia Geral da ONU. A Palestina será reconhecida como Estado observador. Ao contrário do que o senso comum pode indicar, esta será a melhor notícia para Israel. 

Segundo o Wall Street Journal, o rascunho do pedido palestino não menciona a interrupção das construções de assentamentos judaicos na Cisjordânia como pré-condição para o retorno à mesa de negociações. Apesar de que tal reivindicação seria algo até bastante razoável, a mensagem do presidente Abbas é de que está disposto a negociar desde já. Este é um enorme avanço no conflito, muito embora o cenário atual interno nas questões políticas palestinas não lhe seja nada favorável. A Autoridade Palestina nunca esteve tão enfraquecida. 

O conflito entre Israel e o Hamas foi muito favorável a este último, mas nada lucrativo à AP. O erro estratégico do atual governo de Israel foi quase infantil, a não ser que tenha sido proposital (em qualquer dos casos, é muito ruim). Se o objetivo da guerra em Gaza era enfraquecer o grupo radical que se apoderou do território, o resultado prático da ação foi exatamente o oposto. Lembro que, como escrevi por aqui tantas vezes, o objetivo estratégico do Hamas é conseguir legitimidade regional. E, graças a Israel, o grupo jamais foi tão bem sucedido; além de ter obtido um cessar-fogo depois de mais de mil mísseis lançados sobre o sul de Israel, demoveu as forças israelenses de realizarem uma incursão terrestre e, para completar, ganhou prestígio interno entre os palestinos e internacional (nos países árabes e islâmicos), fortalecendo a aliança com o Irã. Ainda por cima, o Hamas agora dialoga diretamente com atores regionais importantes, como Egito, Turquia e Qatar. 

Para completar, autoridades de Israel estão no Egito para negociar com o Hamas (possivelmente, através de contatos indiretos) o estabelecimento da segunda fase do cessar-fogo que envolve o relaxamento das medidas restritivas à circulação de produtos e pessoas em Gaza. Toda esta mudança de cenário se deve à guerra recente, transformando o enfraquecimento da Autoridade Palestina e a ascensão do Hamas num recado prático muito perigoso. As escolhas erradas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acabaram por deixar de fora do processo Mahmoud Abbas, presidente da única autoridade política palestina que, desde os acordos de Oslo, negocia com Israel (a concepção da AP, inclusive, é fruto desses acordos). A única chance de reverter este quadro e fortalecer quem faz política é apoiar o pedido de reconhecimento do presidente palestino na ONU. 

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