É isso aí, pessoal. Hoje é o ponto final da campanha pelo cargo político mais importante do planeta. E os meses que antecederam o dia de hoje foram para lá de sujos. Os candidatos usaram todo tipo de armas retóricas e empenharam milhões de dólares para se atacar mutuamente. De longe, Mitt Romney foi quem mais se expôs. E o fez, inclusive, de maneira irresponsável, como no vídeo vazado que quase encerrou sua carreira política, quando o candidato deixou claro que Obama necessariamente receberia 47% dos votos daqueles que “se vitimizam e vivem graças à ajuda do governo”.
Cheguei a publicar, na época, que este episódio poderia não apenas acabar com as chances do republicano, mas enterrar sua carreira política. Errei feio. Estamos falando dos EUA, país que sempre nos surpreende com reações como a ocorrida; Romney não apenas deu a volta por cima, como também empatou com Obama, ultrapassando o presidente na contagem total dos votos. Vai entender. A campanha americana é suja, mas a verdade é que aqui no Brasil não estamos em posição de garantir que nossas eleições presidenciais sejam o grande espaço elegante e desinteressado para o debate de ideias. Basta lembrar o que aconteceu na última disputa, quando o então candidato José Serra foi atingido por uma bolinha de papel e, como tentativa de capitalização política do ocorrido, chegou a fazer uma tomografia. Setores que o apoiavam, inclusive na imprensa, classificaram a bolinha de papel como um “atentado à democracia”. Isso sem falar que, durante parte da campanha, o debate se polarizou entre a defesa e o ataque ao aborto. Pois é.
No caso dos EUA, Romney se excedeu em inverdades a ponto de seu assessor-chefe dizer claramente que “não permitiria que a campanha fosse regulada por quem checa fatos”. A mentira estava liberada oficialmente. E assim ocorreu, a ponto de Steve Benen, responsável pela redação do blog de Rachel Maddow, da MSNBC, contar 917 dados e fatos errados usados a favor de Romney.
Do ponto de vista ideológico, o embate Romney e Obama foi limitado; os dois candidatos entenderam que o público queria soluções para os problemas econômicos e acabaram focados no assunto. A parte ideológica também seguiu o lastro da economia, e o partido Republicano tentou transformar o presidente num porta-voz do socialismo. O vice de Romney, a estrela em ascensão Paul Ryan, chegou a declarar que as ideias de Obama representam “uma ameaça aos valores ocidentais” (!). Isso porque os republicanos distorcem o conceito de livre mercado e papel do governo. Para eles, o livre mercado é a forma de recompensar justamente quem trabalha. Qualquer intervenção, qualquer tentativa de equilibrar a desequilibrada relação entre empresas e os cidadãos, põe em risco os empregos e a criação de riqueza. Entrevistado pelo New York Times, Rich Hart, professor de economia e mentor de Paul Ryan, disse temer que os EUA se transformem numa espécie de “Estado socialista europeu”. Está aí a visão simplória republicana.
Para sorte de Obama, os deslizes de Romney acabaram sendo divulgados com mais impacto nesta reta final. Os dados equivocados sobre as montadoras Chrysler e GM sobre os quais comentei no último texto pegaram muito mal. E ainda tiveram importância maior justamente por afetarem a população de Ohio, um “swing state” onde a indústria automobilística é grande empregadora. Agora, para piorar o lado republicano, surge a notícia estranhíssima de que o ex-presidente George W. Bush proferiu uma palestra secreta nas Ilhas Cayman e seus participantes foram orientados a não comentar, em nenhuma hipótese, o que Bush disse durante o encontro. Pegou muito mal. Ainda mais porque, não custa lembrar, o próprio Mitt Romney possui 25 milhões de dólares investidos em fundos nas Ilhas Cayman. E a Bain capital, antiga empresa do candidato e fonte de seu sucesso financeiro, possui 138 investimentos no arquipélago e 40 contas secretas. A partir de hoje, dia 6 de novembro, saberemos como os americanos entenderam tudo isso.
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