O prazo estipulado pelos EUA para que Israel e a Autoridade
Palestina comecem a estruturar as bases para a retomada de conversações de paz
é abril. Estamos em fevereiro e, como de costume, há poucos avanços. A notícia
da expansão de assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental não pode ser
considerada exatamente um incentivo ao diálogo. Mas há uma questão relevante
neste ponto: para Israel, Jerusalém reunificada desde 1967 é a capital do país,
não um assentamento. De qualquer maneira, aprovar construções na parte da
cidade que os palestinos pretendem estabelecer sua capital não ajuda muito.
Ainda mais neste momento. No entanto, creio que as duas partes vão correr do
acordo.
Foi só o secretário de Estado John Kerry anunciar que os
lados precisavam estabelecer linhas gerais para retomar conversas mais sérias
que os problemas começaram a surgir. A liderança palestina tampouco está
disposta a declarar amplo apoio ao que Washington imagina viável para
solucionar o conflito, mesmo levando em consideração que a ideia americana é a
mais razoável possível. De fato, é a única alternativa para um acordo de paz
sério. E isso demanda coragem para negociar. E negociar é, em boa parte, enfrentar
derrotas – muitas delas dolorosas. Os pontos principais são os seguintes:
Divisão de Jerusalém (sem entrar em especificações técnicas
por ora); retirada gradual dos assentamentos judaicos da Cisjordânia – Israel
manteria controle sobre os maiores blocos; Israel cederia parte de território
aos palestinos como compensação à manutenção de parte dos assentamentos; palestinos
reconheceriam Israel como Estado judeu; compensação financeira aos refugiados
palestinos, mas estes não teriam qualquer direito a retornar a Israel, somente
ao Estado palestino.
Não imagino qualquer solução que possa fugir das
alternativas listadas acima. Talvez alguém muito criativo imagine algo, mas
ninguém com real interesse no estabelecimento da paz entre israelenses e
palestinos conseguiu, até hoje, pensar em soluções diferentes. Até porque
encontrar um meio-termo é, como escrevi, aceitar derrotas. Nos bastidores, há
informações de que a cúpula do governo de Israel aceita assinar a intenção de
conversar a partir dessas bases. Acho que fica mais complicado aos palestinos,
justamente porque a Autoridade Palestina deve enfrentar forte oposição interna
do Hamas e, considerando seu enfraquecimento político interno, pode tentar
encontrar uma maneira de abandonar o barco sem parecer ter cedido às pressões
do grupo radical islâmico.
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