É sempre complicado escrever sobre a Venezuela. Há um profundo embate ideológico pelo continente afora para defender este ou aquele lado. As análises invariavelmente acabam por esbarrar na disputa entre esquerda e direita, o que torna difícil o diálogo entre os envolvidos.
Este tipo de dialética não ocorre somente de fora para dentro, pelo contrário. É, na realidade, a exportação nacional venezuelana desde o primeiro mandato de Hugo Chávez, em 1999. Os confrontos entre partidários do chavismo e opositores nesta última semana mostram apenas o que todo mundo já sabia: a divisão interna já ultrapassou os limites. A violência é cada vez maior porque todos estão exacerbados em suas posições.
O presidente Nicolás Maduro, por seu lado, não consegue acalmar ânimos. Por mais que condene os exageros do poder coercitivo e de manifestantes, reafirma teorias conspiratórias e retroalimenta a oposição no que ela tem de pior.
As manifestações na Venezuela têm objetivos diferentes das do Brasil. Como escrevi durante os protestos de junho, por aqui existe um descontentamento com o modelo político, mas não necessariamente ideológico. O modelo político brasileiro vai além das questões partidárias; é um traço nacional do Estado brasileiro. Na Venezuela, o país está polarizado entre militantes do chavismo e seus opositores.
Falta à Venezuela pragmatismo. Isso porque é preciso transformar o potencial da segunda maior reserva de petróleo no mundo em bem-estar. Por mais que se tente argumentar, não se pode negar índices que vão além do debate vintage que acontece no país: um quarto da população vive abaixo da linha da pobreza; a inflação de 56,2% é a maior do mundo. O governo venezuelano não tem dinheiro para pagar fornecedores de bens e serviços.
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