Li uma frase de George Friedman que considero resumir bem a situação na Ucrânia: “o simbolismo mais profundo da revolução, e o mais problemático, é que o povo na praça fala pelo povo como um todo”. É esta a dimensão do país neste momento. É este também o dilema. Que futuro os espera? A região da Crimeia, dada de presente pelos russos à Ucrânia em 1954, vai tentar a independência, vai aceitar o novo governo ucraniano ou, ainda, decidirá se aliar à Rússia não apenas de maneira simbólica, mas também politicamente?
Sobram mais perguntas que respostas. Esta frase de George Friedman também ajuda a relativizar a presença de grupos nazistas e de extrema-direita nos protestos. Não necessariamente a Ucrânia vai se tornar um Estado nazista. Até porque se a ideia for mesmo abraçar de vez a União Europeia, a essência nazista de parte do movimento precisará ser reprimida ou até mesmo – o que seria ideal – descartada. Em meio à crise econômica e de existência, a UE definitivamente não precisa do recrudescimento do nazismo. Menos ainda de um membro cuja cúpula de governo é oficialmente vinculada ao nazismo.
Tampouco ninguém pode afirmar se a disputa entre russos e europeus vai desencadear um episódio dramático da Guerra Fria já quase na metade da segunda década do século 21. Mas antes de cravar resultados e apostar num conflito armado, é sempre bom lembrar da política de bastidores – esta sim a que de fato importa – e levar em consideração o cenário internacional mais amplo. Ian Brenner, presidente do Eurasia Group e professor da Universidade de Nova Iorque, lembra que a Rússia provê 28% do gás natural europeu. Com grandes demandas energéticas, abrir mão de um fornecedor tão significativo seria loucura. Ainda mais num momento de crise profunda, onde não contar com qualquer forma de agente impulsionador econômico não é uma possibilidade real.
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