Comentei no post de terça-feira sobre a visão pragmática de estratégia de longo prazo de Hamas e Israel. Gosto da ideia de Uri Halperin sobre os interesses reais dos atores por trás do conflito real. A obra fundamental do general prussiano Carl von Clausewitz sobre a definição do conceito de guerra ainda é uma das mais estudadas e pode ajudar a entender este capítulo de oposição violenta no Oriente Médio sob uma perspectiva diferente.
Em seu livro “Sobre a Guerra”, Clausewitz define claramente a razão primária de qualquer conflito: “a guerra é um ato de violência destinado a compelir nosso inimigo a fazer a nossa vontade”. Pode parece óbvio, mas é genial. E esta definição clássica e conhecida entre teóricos das Relações Internacionais encontra oposição na própria natureza deste confronto entre Israel e Hamas. Nenhum dos dois tem a capacidade militar de impor à outra parte sua vontade primordial: o Hamas não destruirá Israel; Israel não acabará com o Hamas.
E aí retorno à posição de Halperin. Diante dessas impossibilidades mútuas, as partes tendem a reduzir expectativas para o futuro breve – o que, infelizmente, deve garantir novas etapas de enfrentamento (talvez em dois anos, como vem ocorrendo periodicamente). E diante da redução dessas possibilidades de ganhos, cada lado vai tentar encontrar sua vitória, mesmo que mínima. Israel vai se apegar aos ganhos técnicos. Benny Gantz, chefe do exército, já sinalizou que “Israel neutralizou a habilidade estratégica do Hamas de desenvolver mísseis e usar túneis subterrâneos”.
Para o Hamas, a situação agora está mais complicada. Com menos apoio de seus aliados, com a estratégia de lançamento de mísseis a partir de áreas com grande concentração de civis relativamente difundida, o grupo ainda se apoia sobre a cobrança internacional a Israel em função do número de palestinos mortos durante a guerra. No entanto, nesta quinta-feira, manifestações em Gaza pediam o prolongamento do cessar-fogo (ainda em negociação no Cairo).
O Hamas está demorando a aceitar a proposta mediada pelo Egito, uma vez que se opõe à atual administração egípcia (a que derrubou seus aliados da Irmandade Muçulmana) e deve apresentar algum ganho prático aos palestinos em Gaza. Após um confronto de um mês bastante prejudicial à população, o Hamas vai precisar de mais do que um discurso de “resistência” para convencer seu público interno de que vale a pena manter a estratégia de confrontos com Israel (estratégia que é a própria gênese do grupo).
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