Como o Hamas ainda não tem habilidade no campo diplomático, precisa manter o foco onde é especialista: o militar. Por isso optou por retomar os ataques a Israel duas horas antes do fim do cessar-fogo de três dias. Enquanto havia guerra, o Hamas subiu de nível. Mas a paz é um jogo mais difícil para o grupo. Se o confronto acabar, se houver um cessar-fogo mais duradouro, se a sua liderança precisar conceder mais campo de atuação em Gaza à Autoridade Palestina, de Mahmoud Abbas, então o Hamas terá perdido. Ou, ao menos, precisará se reinventar como organização. Como outros grupos terroristas que acabaram por decidir baixar as armas, vai precisar ser tão efetivo no jogo político quanto tem sido desde 1987 em sua escalada militar por poder entre os palestinos.
O problema disso é que, novamente, o grupo aposta com a vida dos palestinos, aposta ao elevar o nível de destruição de Gaza. Para o Hamas é muito difícil aceitar derrotas. E jogar no campo político significa, naturalmente, a aceitação de muitas derrotas que ainda estão por vir.
Quando Yasser Arafat decidiu seguir adiante com o então primeiro-ministro de Israel Itzhak Rabin, sabia que, na prática, estava dizendo claramente aos palestinos que a ideia de que os judeus seriam “jogados ao mar” e o Estado de Israel destruído deveria ser abandonada – ele até podia afirmar o contrário em discursos mais entusiasmados em mesquitas na Cisjordânia. Mas o fato é que Arafat abriu mão de sua ideologia de quase meio século em nome do pragmatismo. Ele entendeu que Israel era uma potência militar, entendeu que, por mais que quisesse muito, os seis milhões de judeus israelenses não iriam embora, entendeu que todos os exércitos árabes não tinham a capacidade e a motivação necessárias para destruir Israel (como já haviam tentado três vezes). Por essas razões, Arafat abriu mão da luta armada declarada e entendeu que tinha mais a ganhar no campo político.
O Hamas ainda não fez esta opção clara. E, para azar do grupo, o discurso sobre seu desarmamento encontra cada vez mais eco internacional. Abandonado por aliados e pressionado pelos governos ocidentais, o grupo está desesperado por entender que suas fontes de financiamento e envio de armas podem estar com os dias contados. E por tudo isso está apostando no que sabe fazer de melhor: confrontar Israel no campo de batalha. O problema disso é que o Hamas aos poucos se afasta dos anseios do povo pelo qual diz lutar. Os civis palestinos de Gaza querem a reconstrução do território, querem tentar refazer suas vidas. Se a violência recomeçar e Israel responder à retomada de lançamento de mísseis sobre seu território como já disse que irá fazer sempre que for atacado, o Hamas corre o risco de, além de amargar uma derrota no campo militar e político, se distanciar ainda mais dos anseios dos palestinos.
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