Ronen Bergman, analista politico e militar, escreve no New York Times que o Hamas está vencendo o conflito em Gaza. Eu concordo em parte com ele. Já escrevi por aqui que o grupo vencia o confronto, principalmente em função do inédito isolamento internacional que a guerra tem causado a Israel. Mas, na última sexta-feira, comecei a mudar de opinião, principalmente pela reação desesperada do Hamas ao quebrar o último cessar-fogo (não o que passou a vigorar a partir desta segunda-feira, mas o anterior).
A questão sobre quem venceu esta guerra – que ainda não terminou – é complicada mesmo. Mas, aparentemente, os eventos reais no terreno de batalha colocam o Hamas em situação delicada. Notem que me refiro estritamente aos acontecimentos estratégicos que impactam nas consequências no terreno.
A ideia de desmilitarização do grupo está difundida e ganha força. Com a grande perda de vidas inocentes, houve também uma superexposição das táticas de lançamento de mísseis em locais de grande concentração populacional, do uso de escudos humanos e das sucessivas negativas a propostas de cessar-fogo. Se por um lado o objetivo de chamar Israel para dentro de Gaza foi “bem sucedido” como parte do projeto de isolamento internacional sobre o qual escrevi algumas vezes por aqui, por outro há poucas entidades internacionais que dão credibilidade a qualquer argumento usado pelo grupo para justificar o lançamento de mísseis. Quero dizer claramente que não há muito espaço à tentativa de transformar este conflito numa narrativa monolítica onde Israel seria unicamente culpado pelas mortes de civis.
Em função disso tudo, três países europeus já apresentaram proposta que poderia resultar no fim do Hamas tal como o conhecemos hoje. França, Grã-Bretanha e Alemanha sugerem que Gaza seja reconstruída e, em troca, o território seria supervisionado de forma a evitar o rearmamento do Hamas e de outro grupos terroristas que lá operam. Para completar, propõem que todo o material a entrar em Gaza passe por inspeção internacional para evitar que cimento e ferro, por exemplo, sejam usados na construção de túneis subterrâneos. Por fim, os países europeus exigem que a Autoridade Palestina volte a governar o território – da onde seus membros foram expulsos (ou mortos) pelo Hamas em 2007.
Se este plano europeu for aceito pela Autoridade Palestina, pela comunidade internacional e por Israel, o Hamas estará com os dias contados. Como escrevi, pelo menos a face conhecida de existência e o modo de operação do grupo hoje.
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