Dilma anunciou o substituto de Celso Amorim no Ministério das Relações Exteriores: o diplomata de carreira Antonio Patriota, que desde 2009 ocupa o cargo de secretário-geral do Itamaraty. Amorim definiu a escolha como uma homenagem à política externa do governo Lula. E a nomeação de Patriota é isso mesmo; o carimbo de continuidade da doutrina internacional adotada nos últimos oito anos.
Um ponto interessante é que a nomeação lembra de certa forma a recente substituição promovida pelo Irã. Ao escolher Ali Akbar Salehi como ministro das Relações Exteriores, o presidente Ahmadinejad tinha muitos objetivos pessoais, mas o novo ocupante do cargo possui algo em comum com Patriota: a conexão com os EUA. É claro que esta comparação se trata apenas de um exercício, até porque a pauta internacional brasileira - e, principalmente, sua forma de atuação - é bem diferente da iraniana.
O futuro ministro brasileiro é reconhecidamente um articulador político hábil que teve atuação decisiva na aproximação de Lula e George W. Bush, por exemplo. Patriota ocupou a embaixada em Washington a partir de 2006 e conseguiu construir boas relações com autoridades americanas. Tais contatos permanecem até hoje e sua nomeação deve agradar ao governo do EUA. É possível dizer que a escolha foi um tanto óbvia, uma vez que as características do novo ministro são únicas.
A proximidade com os americanos é proporcional à disciplina e ao rigor com que segue o pensamento da diplomacia brasileira recente. É importante se relacionar com os diversos atores nacionais, sem perder de vista os objetivos particulares brasileiros: a busca por reconhecimento e, principalmente, a vaga no Conselho de Segurança da ONU. Patriota partilha desta teoria e sua dedicação ao assunto rendeu, inclusive, um livro de mais de 200 páginas contando a história do Conselho de Segurança.
"A opção pelo embaixador Antônio Patriota para chefiar o ministério de Relações Exteriores revela pelo menos duas decisões da presidente eleita, Dilma Rousseff: o Itamaraty terá prestígio no novo governo, já que se manteve a prática do governo Luiz Inácio Lula da Silva de nomear diplomatas de carreira para os postos-chave do ministério; e a política terá preponderância sobre a economia: o novo ministro escolhido acredita que a ação da diplomacia deve ser pautada por critérios mais amplos que os interesses comerciais", escreve Sergio Leo, do Valor Econômico.
Ou seja, a política externa brasileira deve continuar a mesma, marcada pelo que chamo de ambiguidade estratégica: se por um lado o Brasil está disposto a se relacionar com todos os países de maneira pragmática, por outro mantém um traço bastante marcado ideologicamente.
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