Agora que a política externa americana está exposta nua e crua, as autoridades de Washington iniciam o processo de recuperação dos danos. A melhor forma de mostrar bons serviços no exterior é atacar os pontos óbvios. O mais óbvio deles, o conflito entre israelenses e palestinos, constitui sempre um atrativo especial. Não apenas porque conseguir pequenos avanços já rende muitos frutos, mas também porque, a partir do início do ano que vem, começam os primeiros movimentos para a sucessão de Obama.
O campo de batalha política dos EUA ainda está totalmente aberto. Não poderia ser diferente, é bom dizer. Mas alguns símbolos deste novo cenário americano estão bastante amadurecidos. Um dos mais importantes deles é Sarah Palin, figura representativa dos conservadores do Tea Party. Adivinha para onde ela planeja ir neste final de ano? Israel e Grã-Bretanha. A viagem de Palin a Israel é importante por dois motivos: marca bem o apoio internacional do movimento e pretende atacar um dos principais pontos fracos da futura, quem sabe, candidata a candidata republicana; a política externa.
A secretária Hillary Clinton também está empenhada em emendar as articulações internacionais americanas. Encontra-se com o negociador-chefe palestino, Saeb Erekat, e com o primeiro-ministro, Salam Fayyad. Também tem reuniões com o ministro de Defesa de Israel, Ehud Barak. Eu não duvidaria que, apoiada pelo marido e pela falta de popularidade de Obama nos EUA, Hillary Clinton desse o troco e se firmasse como candidata democrata.
Em meio a tanta ansiedade, o fundamental: as negociações entre Israel e Autoridade Palestina estão paradas. A verdade é que seus três protagonistas estão incrédulos e demonstram ter abandonado o barco: o governo de Benjamin Netanyahu insiste na manutenção dos assentamentos; os palestinos permanecem divididos entre Fatah e Hamas; e os americanos não apresentam qualquer solução criativa para novas bases de diálogo porque estão neste momento mais preocupados com outras questões, principalmente com os muitos problemas internos do país. Esta zona de conforto costuma anteceder grandes conflitos na região.
A ofensiva diplomática palestina que pretende declarar unilateralmente a criação de seu Estado pode parecer uma solução ao impasse. Mas não é. Pelo contrário. O Estado palestino viável não será criado sem negociações. E a explicação para isso é óbvia. Por mais que todos os pacifistas sejam contrários aos assentamentos judaicos na Cisjordânia, é preciso admitir a realidade. Há 400 mil cidadãos israelenses que vivem atualmente em território palestino. Isso quer dizer que, se os palestinos declararem independência, precisarão lidar com pouco menos de meio milhão de população hostil a tal empreitada.
Este é um problema real porque certamente os colonos irão se manifestar. Ou alguém acha que, de uma hora para outra, eles simplesmente abandonarão suas casas e passarão a aceitar que Israel deve existir até somente as fronteiras pré-1967? Se um Estado palestino for unilateralmente declarado, há algumas opções: Israel parte para a defesa de seus cidadãos e declara guerra; Israel não faz nada e os colonos se organizam militarmente; os palestinos decidem expulsar os colonos e Israel parte para defender seus cidadãos.
Eu acredito num cenário mais complexo, que une a última alternativa a ações por parte de Hezbollah e Hamas para intervir neste conflito que me parece certo, no caso da declaração de independência unilateral palestina. Como tenho certeza de que as autoridades americanas já traçaram todas essas análises, não tenho dúvidas de que os EUA irão se voltar para o Oriente Médio novamente.
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