A animosidade entre as Coreias pode ter despertado o senso internacional chinês. Ainda não se pode avaliar o que isso irá significar, mas o fato é que, por acaso ou não, a proximidade única entre China e Coreia do Norte transformou Beijing em protagonista diplomático - algo que não acontece todos os dias, vale dizer. Isso deve ter um impacto bastante significativo no novo ciclo do jogo político.
Estudiosos sul-coreanos alertam para a possibilidade de Pyongyang levar a cabo novos testes com mísseis de longo alcance ou realizar seu terceiro teste nuclear. Enquanto isso, está todo mundo de olho nas ações do governo chinês, cujos compromissos diplomáticos estão bem movimentados na virada do ano. Em janeiro, o presidente Hu-Jintao se encontra com Obama, nos EUA. No mês seguinte, os ministros de Defesa de China e Coreia do Sul se reúnem em Beijing.
A crise na península coreana não apenas colocou a China no foco, mas também mudou a forma de relacionamento entre o ocidente e o país. Por exemplo, se ao longo do ano os EUA não se cansaram de criticar a maneira muito particular chinesa de se expandir economicamente, o discurso americano mudou neste momento. Como lembra o Washington Post, oficiais do alto-escalão do governo Obama passaram a elogiar a postura de Beijing durante o fogo-cruzado entre as duas Coreias.
Curiosamente, a apatia chinesa foi duramente criticada no auge do episódio. O governo chinês não agiu diretamente e se mostrou pouco disposto a exercer papel mais ativo. Como único aliado dos norte-coreanos, os EUA depositaram muitas expectativas de que Beijing pudesse fazer mais. Isso não aconteceu.
Sem a menor dúvida, a interpretação deste cenário levou as autoridades chinesas a perceber uma oportunidade.
Não se trata de preencher as expectativas ocidentais, muito pelo contrário. Mas compreender que o episódio pode ser útil politicamente. A ambiguidade apresentada pelos norte-coreanos durante as fracassadas negociações de seis partes é um comportamento que pode ser adotado pela China.
A situação mais confortável é perceber que o país é o único capaz de acalmar as ansiedades ocidentais e sul-coreanas. Se Pyongyang conseguiu enrolar as grandes potências - e a própria China, diga-se de passagem - por que não usar a mesma estratégia? Trata-se de um pensamento pragmático e que tem tudo para funcionar. Os EUA já dão mostras de terem abandonado o discurso do confronto. Se em janeiro Hu-Jintao irá encontrar Obama, por que não discutir os impasses que envolvem os norte-coreanos e ao mesmo tempo aproveitar para apresentar uma lista de reivindicações políticas e econômicas?
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