terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Irã substitui ministro das Relações Exteriores e mantém ambiguidade estratégica

Há muitas teorias e interpretações sobre a repentina decisão do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, de substituir Manouchehr Mottaki, ministro das Relações Exteriores. O episódio sofreu críticas contundentes de setores da imprensa do Irã principalmente por ter ocorrido enquanto Mottaki estava em viagem ao Senegal. Há significados distintos que de certa forma explicam o gesto. O mais claro deles é a disputa interna, que coloca em lados opostos o presidente - que conta com o apoio do líder-supremo, o aiatolá Ali Khamenei - e o parlamento.

 
Desde as controversas eleições de 2009, há uma disputa que varia entre velada e aberta. Ahmadinejad é visto com desconfiança por parte dos 290 membros da Assembleia Nacional devido às suspeitas de fraude e remanejamento do orçamento sem a aprovação prévia dos parlamentares. O presidente, inclusive, trava disputa pessoal com a prefeitura de Teerã - ocupada por Mohammad Baqer Qalibaf, seu rival político. O líder do parlamento, Ali Larijani, é um dos porta-vozes da disputa com Ahmadinejad.

 
Neste ambiente de confronto interno, o presidente - mais uma vez apoiado por Ali Khamenei - deu uma demonstração de força ao demitir Mottaki. Além de o agora ex-ministro ser outro de seus adversários políticos, os motivos dos constantes embates entre os dois explicam os rumos que a República Islâmica tem seguido.

 
"Mottaki era comprometido com o decoro diplomático e não seguia as atitudes de Ahmadinejad", explica Ahmad Bakhshayesh, professor de política da Universidade de Teerã à AFP. Excluir alguém com este perfil de uma pasta tão importante é uma bela forma de demonstrar quais as diretrizes do governo, certo? Mais ou menos. Como a realidade ensina, a complexidade do Irã não permite conclusões simples. Se a ambiguidade do país tem conseguido segurar decisões militares drásticas ocidentais até agora é porque há bastante mérito nesta prática.

 
Se a guerra política iraniana explica em parte a decisão de trocar o titular do Ministério das Relações Exteriores, do ponto de vista internacional a substituição não é necessariamente ruim. Pode, inclusive, servir aos propósitos de melhorar o diálogo sobre o programa nuclear com as grandes potências. O novo ministro, Ali Akbar Salehi (foto), é o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã. Salehi tem perfil mais cosmopolita - com licença poética para empregar o termo. Estudou na Universidade Americana de Beirute, no Líbano, e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA.

 
O olhar de Teerã pode ter conciliado os interesses internos do presidente Ahmadinejad e uma boa dose de pragmatismo internacional. Sob este ponto de vista, seria como dar às grandes potências ocidentais o que elas mais querem. Se a grande preocupação é o programa nuclear iraniano, então que simbolicamente a pasta das Relações Exteriores seja ocupada por um especialista no assunto que, ao mesmo tempo, vai defender os interesses do país de acordo com as diretrizes do presidente e de Ali Khamenei.

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