segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A vingança dos nerds

É uma besteira condenar o WikiLeaks. O site não pode ser responsabilizado como se fosse uma organização de governo por ter vazado as informações. Julian Assange não é funcionário de qualquer agência de inteligência ou segurança e, por isso, não está comprometido com ninguém. Lutar para tentar fechar o site simplesmente alavanca ainda mais o movimento dos que o defendem.

 
Os líderes do grupo autointitulado Anonymous passaram a distribuir ferramentas virtuais para quem quiser participar da operação de vingança aos detratores do WikiLeaks. Os combatentes estão muito distantes do modelo tradicional de soldado. São jovens usuários de computador. A guerra virtual alardeada coloca em lados opostos também gerações distintas. De um lado os decanos congressistas americanos; de outro, uma geração que sabe não ter nada a perder. A internet é etérea e não é muito difícil para um hacker esconder sua identidade real.

 
Todas essas questões contribuíram para tornar Assange uma celebridade. E o fundador do WikiLeaks conseguiu atingir o objetivo do mercado: mobilizar a juventude. Assange é um líder para uma geração não identificada com qualquer das velhas e desgastadas ideologias políticas. Num mundo que caminha para a pasteurização, o australiano sensibilizou quem até então não estava nem aí para as lideranças tradicionais.

 
Assange é um gênio, é bom dizer. Mas mesmo os gênios precisam de sorte. E todas as circunstâncias contribuíram para criar este fenômeno. Sua popularidade decorre do fato de esses jovens identficarem na luta contra a repressão aos vazamentos um prolongamento de suas próprias reivindicações. 

"Antes do WikiLeaks, o alvo inicial da Operação Payback era a indústria fonográfica americana, eleita por suas perseguições aos usuários que baixam música", lembra reportagem do Guardian. Num efeito cascata, a batalha foi rapidamente vinculada à liberdade de expressão. Ora, é preciso ser claro e ter coragem para falar sem meias-palavras: a luta pela liberdade de expressão é muito justa e antiga. Mas nem por isso teve - inclusive nesses pouco mais de dez anos de popularização da internet - apoio em massa dos usuários. Menos ainda, dos jovens usuários.

 
Esta é uma briga comprada pelos nerds. E quanto mais correr o boato de que Assange fez sexo com duas suecas - duas suecas, é bom ressaltar -, maior será a idolatria em torno dele. Deixando de lado as brincadeiras, o "serviço" oferecido pelo WikiLeaks é um caminho sem volta. Daniel Domscheit-Berg, que trabalhou no WikiLeaks, diz nesta segunda-feira que criará seu próprio portal de vazamento de informações.

 
Como tudo é mercado, o australiano apenas deu o pontapé inicial para a existência de um nicho poderoso e com grande potencial de crescimento. A diferença é que o OpenLeaks - como o concorrente vai se chamar - não vai contar com a equipe de jornalistas de Assange para checar as informações antes de repassá-las aos jornais. No final das contas, do ponto de vista dos governos, era melhor não ter dado tanta importância ao vazamento inicial. A situação sempre pode piorar.

Nenhum comentário: