Talvez este texto tenha validade muito limitada e pode ser que enquanto escrevo essas linhas tudo tenha mudado novamente. Nesta data que marca a lembrança de dez anos dos atentados de 11 de Setembro, é preciso deixar claro: os EUA derrotaram a al-Qaeda.
Não há nada de polêmico nesta declaração. Dez anos se passaram e durante este período os americanos conseguiram atingir dois de seus principais objetivos para responder aos ataques terroristas: evitar a realização de novos e mortais atentados; impedir que o Afeganistão permanecesse como base do planejamento e treinamento da al-Qaeda. Essas afirmações são incontestáveis. Mas, como escrevi acima, elas são frágeis porque dependem da manutenção do status-quo.
A diferença, agora, é que, ao contrário de dez anos atrás, os EUA estão muito mais vigilantes. É verdade que para se chegar a este ponto três trilhões de dólares foram gastos, é verdade que este dinheiro poderia ter sido empregado na economia americana e áreas como educação, saúde, pesquisa e tantos outros investimentos internos; também é verdade que muitos americanos morreram não apenas nos ataques, mas nas guerras seguintes promovidas para responder ao 11 de Setembro. Mas a al-Qaeda simplesmente fez com que Washington tomasse as medidas necessárias para evitar que este grupo terrorista ou qualquer outro voltasse a agir em território americano.
A organização de Osama Bin Laden dispunha de uma única bala. A partir do “disparo”, todo a dinâmica mudou. Até porque, conceitualmente, a situação não poderia ser outra mesmo. E, claro, o próprio Bin Laden sabia muito bem disso. De um lado, a maior potência do planeta, um orçamento milionário, os maiores e melhores recursos militares do mundo. De outro, uma entidade que não era um Estado nacional, com tecnologia bélica limitadíssima e provida somente de disposição ideológica. Ninguém poderia imaginar que esta balança assimétrica poderia ser minimamente equilibrada.
Apesar disso e de tamanho desequilíbrio, pesquisa do Instituto Gallup mostra resultados surpreendentes: assim como em outubro de 2001, os americanos continuam ainda hoje divididos quanto a quem está vencendo a chamada “Guerra ao Terror”: 46% dizem – em 2011 – que os EUA e seus aliados estão vencendo; 42% afirmam que nem os americanos ou os terroristas venceram a guerra. Pois é, a dúvida é certamente muito favorável à al-Qaeda – organização que, na realidade, além de ter perdido seu líder está cada vez mais enfraquecida. Não apenas estruturalmente, mas também porque seu discurso simplesmente não colou entre a população árabe e muçulmana.
O resultado desta pesquisa reflete uma sensação muito natural e humana. A de que aquele momento pontual trágico vai perdurar pela História. Explico: meses após o 11 de Setembro, o mundo foi varrido pela “novidade” do terrorismo em escala global. E aí o imaginário da humanidade – e principalmente da população ocidental – foi preenchido por teorias, livros, reportagens sobre o fundamentalismo islâmico. E a força deste discurso não deixou espaço para virar a página.
Mas a página foi virada. A al-Qaeda perdeu, os EUA venceram militarmente – muito embora tenham perdido demais por conta da crise econômica que atravessam – e, enquanto a situação permanecer como está, o poder do fundamentalismo islâmico sobre as decisões da maior potência do planeta terá representado apenas um capítulo mínimo da trajetória dos EUA.
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