Dez anos depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, o mundo é um lugar muito diferente. Esta frase verdadeira encerra o ciclo de repetições desta efeméride. De fato, há muitas e muitas transformações ocorridas a partir dos ataques da al-Qaeda aos EUA. Algumas muitos importantes, mas que sempre acabam periféricas nas muitas análises publicadas. Não apenas o planeta mudou seu foco, mas – tão fundamental quanto – sua principal potência voltou os olhos para além de suas fronteiras de uma maneira como não se via há bastante tempo.
Antes de 2001, quantos americanos sequer sabiam que o Afeganistão existia? Parte deles tinha uma lembrança dolorosa do Iraque, mas a relação construída a partir da ofensiva de 2003 passou a ser uma realidade para todos os cidadãos. Mais americanos morreram nesta segunda guerra do Iraque do que nos próprios atentados de 2001. Isso é circunstancial, mas explica muito pouco. O que quero dizer é até bastante simples: involuntariamente, a al-Qaeda transformou os EUA num país com olhos voltados para o Oriente.
Este fato acabou respingando por aqui de forma diferente. Se até meados da primeira década deste século 21 a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) polarizava partidos e paixões políticas no Brasil, este assunto agora se resume a uma lembrança turva, como de um passado muito distante. Washington mudou prioridades e abriu mão de sua atuação histórica na América Latina. A Casa Branca deixou de lado articulações no continente em nome de medidas de segurança. Afinal, qual a importância de construir um relacionamento especial num espaço que não costuma ser grande fonte de problemas quando os cidadãos americanos correm riscos dentro do próprio país?
Durante esses dez anos, o objetivo tem sido o mesmo, algo até palpável e perceptível visualmente: Bush e, posteriormente, Obama não poderiam se permitir errar como erraram naquele 11 de setembro. Não haveria formas de justificar internamente a repetição das mesmas falhas – falhas amplamente divulgadas pela comissão interna que investigou e apontou todas as brechas e vacilos nacionais.
Ao mesmo tempo em que olharam para fora estupefatos, os americanos se voltaram para as questões de segurança interna. E gastaram dinheiro. Muito dinheiro. Estimativas publicadas pelo jornal Washington Post apresentam números impressionantes. Nesses dez anos foram investidos 3 trilhões de dólares para que 854 mil pessoas divididas em 1,2 mil organizações governamentais e 1,9 mil empresas dessem conta de prover informações, vigiar, checar dados e interromper qualquer tipo de atividade terrorista nos EUA. E, assim como na vida da maior parte dos trabalhadores, os EUA entenderam que não há limites para o buraco quando se fala da vida financeira. Sempre dá para piorar. Os trilhões de dólares gastos com segurança são simultâneos à maior crise do país desde os anos 1930.
O 11 de Setembro moldou uma nova visão de política externa que tende a se sofisticar com a passagem do tempo. O tal “Eixo do Mal” popularizado pelo presidente Bush hoje soa ainda mais simplório. Até porque os atores se tornaram menos maniqueístas e suas ações e realidades não necessariamente evidenciam intenções. Vale um exemplo interessante: Irã, Turquia e Rússia enfrentam, cada um com sua particularidade, movimentos contestadores aos respectivos governos centrais. São grupos que bombardeiam alvos nacionais com objetivos distintos, mas que, em comum, estão no lado oposto à administração central. Alguém é louco de dizer que, por conta disso, esses países estão de alguma maneira alinhados aos EUA?
Essas são apenas algumas das complexidades provocadas pelos ataques de 11 de Setembro. Ao longo desta semana em recordação aos dez anos dos atentados escreverei mais sobre o assunto.
Um comentário:
Gostei muito da sua análise frente ao que ocorreu após o 11/09 com a política externa americana. Serviu de base para uma pesquisa minha e adoraram. Parabéns!
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