A partir de amanhã, quarta-feira, as negociações serão retomadas na ONU sobre o reconhecimento de um Estado palestino. Por mais que ainda não haja uma sentença sobre o principal assunto polarizador de opiniões mundiais, já é possível identificar algumas das consequências da grande mobilização política da semana passada. Por incrível que pareça, ouso dizer que todos os três principais atores envolvidos saíram vencedores – muito embora as gradações dessas vitórias sejam distintas entre si.
Os palestinos venceram mais, claro. Não apenas reafirmaram seu poder internacional (e alguém duvida de como é importante o grande capital de simpatia pública nos dias de hoje?), como conseguiram também modificações de status-quo. Se durante os dois últimos anos a situação esteve bastante confortável ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o paquiderme gigantesco no qual se transformou o processo de paz no Oriente Médio foi obrigado a se movimentar. Sem nenhum medo de errar, já dá para ter certeza de que algo está para mudar na região. Ainda é arriscado apontar as mudanças, mas, definitivamente, não há espaço para a manutenção das circunstâncias anteriores – bastante favoráveis ao líder de Israel e à sua coalizão. A comunidade internacional vai pressionar ao máximo e forçar as partes a negociar em termos práticos.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também venceu – menos que os palestinos, mas conseguiu uma vitória importante, a única possível. Seu discurso na Assembleia Geral seguiu pelo caminho do realismo. Transmitido ao vivo para todo o mundo, agradou aos israelenses comuns por expor algumas das contradições da própria ONU, como o fato de o Líbano (com o Hezbollah como parte integrante do governo) ocupar a presidência rotativa do Conselho de Segurança; ou mesmo a Líbia, ainda presidida por Kadafi, ter participado do Conselho de Direitos Humanos. Fora isso, também fez questão de lembrar as negativas da Autoridade Palestina em negociar anteriormente. Mas a grande vitória israelense foi ter conseguido que países importantes como França e Espanha passassem a compartilhar o ponto de vista de Israel. Principalmente quanto à importância de uma solução negociada entre as partes antes da criação de um Estado palestino – não o contrário, como pretende o governo do presidente Mahmoud Abbas. Os israelenses também estão a caminho de estabelecer negociações diretas com os palestinos sem qualquer pré-condição.
Para completar, o próprio presidente Obama também se saiu bem. No final de uma semana difícil repleta de negociações de bastidores, sua proposta de acordo que prevê tomar as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias como base para o estabelecimento de fronteiras atuais foi levada em consideração pelos dois lados – até mesmo por Bibi. Não há nenhuma novidade na posição da Casa Branca, mas houve tanta confusão após o discurso de Obama em maio passado que a ideia soou quase como novidade polêmica.
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