Pelo menos 46 pessoas morreram em 11 estados Americanos devido à passagem do furacão Irene. Apesar disso, a candidata a candidata (é isso mesmo) do partido Republicano Michele Bachmann não deixou de brindar o público com toda a sua verve “humorística”. Vou reproduzir exatamente o que ela disse em discurso de pré-campanha: “eu não sei o quanto Deus deve fazer para conseguir a atenção dos políticos. Nós tivemos um terremoto; tivemos um furacão. Ele disse: ‘vocês vão começar a me escutar por aqui? Escute o povo americano porque o povo americano está rugindo exatamente agora’. Eles (sic) sabem que o governo está numa dieta de obesidade mórbida e nós precisamos controlar os gastos”. Quem achou graça levante a mão.
Há consenso – principalmente fora dos EUA – de que os republicanos nunca foram lá grandes humoristas. E, pelas declarações de Bachmann, continuam a não ser. No entanto, há alguns sinais importantes em suas palavras.
O primeiro deles diz respeito à campanha presidencial americana. Para usar o termo apropriado, testemunharemos cada vez mais este cruzamento bizarro entre religião e política. Se um candidato simplesmente republicano ainda oferecia alguma esperança de debates em alto nível e discussões interessantes, com um representante do Tea Party esta expectativa vai por água abaixo. Possivelmente, as propostas do político que vai se esforçar para derrotar Obama irão variar entre Deus, gastos governamentais e impostos. E com direito a toda sorte de combinações entre esses três itens. Haja paciência.
Quando Bachmann insiste na ideia de que o governo é grande demais e faz gastos demais é por uma questão política. O Tea Party se resume a isso. É um grupo minoritário, mas com cada vez mais força no cenário político americano e que chega até a incomodar algumas alas do próprio partido Republicano. No entanto, por mais que faça muito barulho, não tem propostas. É um grande aglutinado de políticos astutos a serviço de parte de empresários espertos que se aproveita da inocência popular ao levantar como bandeira a redução de impostos. Que cidadão de qualquer país do mundo não quer pagar menos taxas?
Mas não se trata somente disso. O Tea Party é formado primordialmente por toda a sorte de aproveitadores (com o perdão do termo, não vejo outra forma de qualificá-los). Os fundadores do movimento são empresários do ramo da indústria química muito insatisfeitos com os impostos cobrados pelo governo e pela fiscalização imposta devido ao uso desmedido do meio ambiente. O pulo do gato que encontraram foi fazer de sua luta a luta de milhares de pessoas ingênuas. Para isso, passaram a contestar qualquer forma de atuação governamental, mas também a própria ciência. Foi assim que conseguiram a adesão de grupos religiosos contrários ao evolucionismo, por exemplo. E, juntos, acreditam que, com certeza, este negócio de aquecimento global é uma besteira. Essa gente já esteve e pode voltar a estar no comando da maior potência do planeta. Particularmente, não creio que se trata de uma boa notícia.
E aí entra o interesse internacional no Tea Party. A Casa Branca chefiada por um presidente do grupo irá jogar às favas qualquer discussão em torno da redução de gases poluentes. No caso específico do Brasil, certamente haverá retrocessos nos debates sobre o fim dos subsídios aos produtores americanos. Esta é uma péssima notícia ao agronegócio brasileiro que se vê impedido de disputar em condições de igualdade no maior mercado consumidor do mundo.
Para os próprios cidadãos americanos, o Tea Party é uma má notícia. Principalmente se falarmos dos cidadãos pobres, que não têm dinheiro para arcar com planos de saúde privados. Uma das principais propostas do grupo é acabar com qualquer projeto de auxílio nesta área em nome da redução de custos ao governo. E redução de custos diminui impostos. Pode parecer incrível, mas muita gente desprovida apoia esta lógica torta.
Ah, para finalizar em grande estilo, o discurso de Bachmann sobre o furacão Irene mirava justamente nos planos de Washington de auxiliar nos resgates da população e na reconstrução das cidades atingidas. Para Bachmann e o Tea Party esta não é a função do governo, mas dos Estados. O problema é que nenhum Estado pode pagar sozinho os custos de um furacão sem a ajuda financeira da Casa Branca. A conta simplesmente não fecha. Mas esta definitivamente não é uma preocupação do Tea Party.
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