Depois desses dias intensos de debate na ONU, ficou provado que o maior perdedor de todo o processo foi o Irã. Parece estranho, não é? Mas faz sentido quando se conhece o principal objetivo estratégico da República Islâmica. Em tempos de reorganização do sistema internacional, os iranianos – assim como o Brasil, diga-se de passagem – estão em busca de protagonismo.
O vácuo deixado pela Guerra Fria e os dez anos de muitas modificações que marcaram a primeira década do século 21 abriram os olhos de países e até de atores não-estatais que este é um momento de reconstrução. Um velho mundo se foi; outro está para emergir. E esta bagunça representa oportunidade.
O Irã vinha em alta. Quer dizer, o país se firmava ao mundo – e principalmente à população comum do Oriente Médio – como voz disposta a desafiar EUA, Israel e, no fim das contas, as potências ocidentais. Havia elementos para acreditar que o caminho do Irã era o confronto – mesmo que este se resumisse somente às bravatas que se tornaram comuns no governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
O problema é que os iranianos não contavam que a Turquia estivesse disposta a pagar alto para lhes tomar o lugar. O patrocínio da “Frota da Liberdade”, em 2010, e o rápido posicionamento durante a Primavera Árabe se encaixaram com perfeição a características que só Ancara possui: modelo político que articula islamismo e democracia; posicionamento estratégico no Mediterrâneo; vaga na Otan. Para completar este cenário espetacular, Recep Tayyip Erdogan é o líder mais popular do mundo islâmico. Fica difícil competir, não é?
Resta ao Irã tentar algum protagonismo a partir do conflito com Israel. Esta é a única arma de que dispõe para retomar a posição perdida. Não por acaso, nesta semana coube ao ministro da Defesa do país, Ahmad Vahidi, anunciar na TV estatal que novos mísseis de curto e médio alcances foram distribuídos à Marinha. Esses mísseis podem atingir Israel e as bases americanas do Golfo Pérsico.
O esforço iraniano é tamanho que o ministro das Relações Exteriores, Ali-Akbar Salehi, convocou a União Europeia a retomar o diálogo sobre o programa nuclear do Irã. As pretensões atômicas do país representam hoje a principal preocupação ocidental, mas também as maiores esperanças do Irã de retomar a liderança no Oriente Médio. Por isso, não acho improvável que, a partir de agora, a República Islâmica volte a emitir comunicados sobre a evolução de suas usinas.
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