quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Brasil, os palestinos e o sistema internacional

O discurso da presidente Dilma Rousseff na ONU não surpreendeu. Ela seguiu à risca o recente histórico da política externa brasileira ao defender o reconhecimento pleno do Estado palestino. No entanto, é preciso dizer que esta prática não se deve tão somente à solidariedade com os palestinos ou ao alinhamento com o eixo sul-sul (para usar um termo bastante comum ao Itamaraty). Essas questões são importantes, mas a estratégia vai mais além.

Soa repetitivo, mas o próprio governo brasileiro procura insistir na tecla de que seu objetivo é reformar, ampliar e, claro, fazer parte de um eventual novo Conselho de Segurança. A tentativa palestina de conseguir reconhecimento nas Nações Unidas é o tipo de situação ideal para o Brasil. A explicação é simples e segue os passos burocráticos planejados pela Autoridade Palestina.

A requisição será apresentada ao CS. Como se sabe, não será aprovada. Mesmo que conte com a adesão da maioria dos membros, será vetada pelos EUA. Como escrevi, Washington não quer fazer uso deste recurso, mas, se não houver acordo com os palestinos e os demais países, será obrigado a fazê-lo. A partir daí, o assunto será levado à Assembleia Geral. Lá, sob aplausos e consternação, os países-membros aprovarão a demanda palestina. Este quadro deixará evidente a disparidade entre o CS e a Assembleia Geral.

Este é o melhor cenário para o Brasil, segundo as autoridades do Itamaraty. Quanto mais distantes estiverem as posições do CS e da Assembleia Geral, melhor. Neste mundo em transformação, países emergentes como Brasil, Turquia e Índia querem representatividade internacional.

Para este grupo de Estados, o CS é um retrato em sépia de uma configuração diplomática, política e militar do pós-guerra. Como buscam ampliação e reforma do fórum, precisam de elementos para argumentar. O veto ao reconhecimento palestino atende plenamente à premissa defendida por Brasil, Índia, Turquia e demais candidatos emergentes de que o desejo da maioria dos membros da ONU não será atendida.

A questão acaba por se transformar em exemplo a ser usado pelo Brasil e por outros países como forma de expor as contradições da sistema internacional. Na prática, o tema também passou a ser um cavalo de batalha entre os que querem a manutenção da hierarquia atual e os que pretendem subvertê-la.

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