Finalmente, começou a semana mais importante do Oriente Médio desde a criação do Estado de Israel, em 1948. No próximo dia 23, os palestinos irão à ONU pedir o reconhecimento de seu país. O que vai acontecer a partir desta iniciativa é mera especulação, mas acredito mesmo numa mudança de paradigmas regional. E quando se fala em algo desta grandeza na região mais problemática do planeta, há uma variedade de opções no meio do caminho entre guerra total – a possibilidade mais extrema – e a completa inércia – a alternativa mais remota e menos provável.
A intenção das lideranças políticas palestinas é mudar a realidade do terreno. Principalmente porque a proposta que devem apresentar à Assembleia Geral das Nações Unidas não se restringe à alteração do nome Autoridade Palestina para simplesmente Palestina. Longe disso.
O texto que vão colocar em pauta de votação é preciso para atingir em cheio o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Será claro e direto ao exigir a legitimação do Estado palestino nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967. Como certamente esta iniciativa contará com amplo apoio dos 192 países que compõem Assembleia Geral, na prática, a ONU vai dar o seguinte recado a Israel: “mais uma vez e com muito mais força, nós nos opomos que Jerusalém Oriental seja parte do Estado de Israel e, menos ainda, sua capital. Da mesma forma e com o mesmo impacto, nós nos opomos que 400 mil judeus continuem a viver na Cisjordânia”.
Dá para entender o impacto de uma legitimação internacional como esta no conflito de maior impasse do planeta? Os palestinos farão uso dessas palavras como forma de alcançar seus objetivos históricos: criar seu país, acabar com os assentamentos judaicos e, além de tudo, pôr em xeque o destino de Jerusalém Oriental.
Não é à toa que agora não apenas Netanyahu passou a topar negociações sem fazer muitas exigências (antes, exigia que o Hamas não fizesse parte de um governo de coalizão ou que os palestinos reconhecessem Israel como um Estado judeu). Agora, a situação mudou completamente. Qualquer negociação beneficia Israel; o problema para o premiê israelense é que os palestinos estão no controle e não têm mais nada a perder.
Todo mundo sabe da ampla simpatia internacional à causa palestina. E sondagens mostram que a resolução favorável ao Estado palestino passará com folga na Assembleia Geral. Na pior das hipóteses ao presidente Mahmoud Abbas (foto), a pressão sobre Israel será tão grande que forçará o governo Netanyahu a retomar as negociações em profunda desvantagem política. Na melhor das hipóteses para as pretensões palestinas, forçará a queda do atual gabinete israelense.
Essas são apenas alguns dos cenários que podem surgir nesta semana decisiva. Resta saber como as populações irão reagir; até porque ninguém ainda sabe responder como vão ficar – juridicamente e na prática – os 400 mil judeus que vivem na Cisjordânia. Se a Palestina for mesmo aprovada – mesmo que simbolicamente –, esta população judaica entra numa espécie de “limbo” legal. Qual será seu destino nos dias seguintes à votação é uma incógnita de conseqüências dramáticas para ambos os lados.
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