terça-feira, 20 de setembro de 2011

As condições muito favoráveis ao Estado palestino

A cartada final palestina acontece num momento estratégico. Todas as condições foram criadas em 2011 para romper com realidades pré-existentes. A Primavera Árabe, o isolamento de Israel, e a ascensão de novos atores internacionais constituem uma espécie de grande onda em que a criação de um Estado palestino soa quase como movimento natural. O presidente Abbas sabe disso e conhece os inúmeros fatores que estão a seu lado.

Tudo isso contribui para que ele se coloque nesta posição irreversível, mesmo diante dos apelos de EUA, do secretário-geral da ONU, da União Europeia e de parte das potências ocidentais. O eixo mudou e é hora de aproveitar.

A Primavera Árabe não chegou aos territórios palestinos. As denúncias de corrupção são as mesmas, mas e daí? O Egito se indispôs com Israel, esfriando de vez as relações entre os países. A Síria, que nunca foi aliada dos israelenses (pelo contrário), mas sempre deixou claro que não estava disposta a um novo embate militar com o Estado Judeu, está afundada em seus próprios problemas. O grito popular por democracia e reformas nos países árabes se tornou realidade, imprimindo certo estranhamento aos países da região alheios ao movimento.

Diante desta configuração, as populações árabes tomam como um passo definitivo a criação de um Estado palestino neste momento. Como não aproveitar esta admiração internacional criada neste ano? Por que não surfar nesta onda? Mahmoud Abbas pode esticar a corda o quanto quiser. Ele não tem nada a perder. Pessoalmente, qualquer resultado o beneficiará. Se um Estado palestino for reconhecido oficialmente, ele terá tirado do papel um projeto nacional jamais alcançado; se for aprovado simbolicamente, já terá ido muito mais longe do que o próprio Iasser Arafat. Se na pior hipótese – e a mais remota delas – encontrar muitos obstáculos pelo caminho, será reconhecido como um mártir político em luta contra as potências ocidentais.

No fim de todo o processo, Abbas deve se tornar o maior vencedor. E isso tudo apenas seis meses depois do vazamento promovido pelo WikiLeaks dando conta de uma espécie de acordo informal oferecido por Abbas e a cúpula atual palestina a Israel. Pouca gente lembra desta história agora, mas este foi um tremendo escândalo potencial abafado graças ao início da Primavera Árabe. O presidente palestino deve ser eternamente grato ao movimento de insurreição popular nos países árabes vizinhos desde seu início e também agora, na fase de aparente conclusão.

Fora tudo isso, os atores que se pretendem protagonistas regionais estão muito satisfeitos. A Turquia se descolou de Irã e Síria (por onde anda Mahmoud Ahmadinejad?) e agora busca estabelecer uma aliança com o Egito. O novo governo do Cairo se afastou de Israel por entender que se aliar ao líder mais popular do mundo muçulmano contemporâneo (o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan) pode ser útil para alavancar negócios e estabilizar a situação no momento seguinte à queda do ex-presidente Hosni Mubarak. A fórmula inventada por Ancara de articulação entre democracia e islamismo faz sucesso e parece ditar os sonhos políticos desta geração de jovens muçulmanos.

Para a Turquia, reforçar laços com esses países emergentes dos embates contra as próprias ditaduras alimenta ainda mais a admiração ao sistema turco. Para completar, entrar em rota de colisão com Israel supostamente para defender os interesses palestinos é uma atitude não apenas coerente, mas esperada por este novo perfil ativista árabe (é bem verdade que a causa palestina sempre foi unanimidade). Ancara entendeu que estar ao lado desses jovens muçulmanos que tomaram as ruas e os governos é um investimento que vai render muito. Ainda mais porque eles querem um exemplo de democracia a seguir e a Turquia pode oferecer isso.

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