Por mais que os negociadores palestinos e o presidente Mahmoud Abbas estejam seguros, todo mundo sabe que não é possível simplesmente excluir os EUA das discussões do Oriente Médio. Ao que parece, no entanto, a Autoridade Palestina decidiu arriscar tudo – até por conta do que tenho escrito por aqui. A situação é confortável até certo ponto aos palestinos e os americanos chegam a acusar o impacto da resolução a ser apresentada nesta sexta-feira. A secretária de Estado Hillary Clinton se contorce como pode de forma a encontrar alguma solução ao impasse. Por ora, nada.
O temor da Casa Branca é ver ruir o trabalho dos últimos quatro anos, durante os quais Washington tentou de tantas maneiras uma reaproximação com o mundo muçulmano. Como o presidente da “mudança”, este era um objetivo pessoal de Barack Obama. Também por isso os EUA se esmeram em esforços para evitar de todas as formas que o país faça uso do veto ao Estado palestino no Conselho de Segurança. Numa semana onde o termo simbolismo vem sendo usado com tanta desenvoltura, vale dizer que o “não” dos americanos aos palestinos será simbólico. O problema é que alguns simbolismos valem mais do que outros. E se há um assunto que une a opinião pública dos países islâmicos como nenhum outro é a causa palestina. Deu para entender o peso do provável “não” americano transmitido ao vivo pela Al-Jazira.
Abbas está convicto de que este é o momento para fazer uso deste poder. E ele até está certo, mas com limitações. Por exemplo, pode ser uma boa estratégia incluir novos atores na mediação (como Turquia e Brasil), mas ainda vai demorar até que esses países possam substituir completamente os EUA. Até lá – e não há garantias sequer de que isso irá acontecer – é preciso lidar com Washington. E por mais que colocar Israel e EUA em rota de colisão represente uma tentação aos palestinos, Obama e Netanyahu são ocupantes temporários de seus cargos.
Não me parece tão inteligente humilhar Obama no mundo árabe e muçulmano (algo que concretamente pode acontecer, como escrevi acima). É menos inteligente ainda acreditar que se a situação está ruim com Obama ela será melhor em sua ausência. Principalmente porque, às vésperas das eleições nos EUA, tudo se transforma em motivo de polarização política. E, claro, a proposta palestina entra no bolo. Por mais que Obama tenha maior aprovação entre os eleitores judeus e por mais que 80% dos judeus americanos costumem votar no partido Democrata, os republicanos encontraram no conflito palestino-israelense uma plataforma para bater na política externa do presidente americano. Radicalizaram para o outro lado e tentam expor Obama como um inimigo de Israel.
De forma a seduzir o chamado voto judeu, prometem de tudo: mudança da embaixada americana para Jerusalém, intransigência nas negociações com os palestinos, fechamento do escritório da Autoridade Palestina em Washington e corte da ajuda financeira aos palestinos (os EUA são os maiores doadores individuais). Isso, claro, se algum dos candidatos do partido vencer as eleições. Acho fácil prometer este tipo de estripulia quando não se ocupa nenhum cargo. Não acredito na consumação dessas medidas no caso de vitória republicana nas eleições presidenciais do ano que vem, mas dá para ter certeza de que as negociações de paz devem ser tão complicadas quanto no período de George W. Bush.
E este é o furo da estratégia atual palestina. Se em curto prazo soa interessante expor os americanos e seu presidente, mais para frente isso pode se mostrar um erro grave.
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