O ano de 2012 começa com um assunto para lá de velho: as ambições nucleares iranianas e a incapacidade ocidental de encontrar meios para lidar com esta questão. Se o tema é batido, também é sistemática a maneira como Teerã conduz o jogo. Se com uma mão o governo de Ahmadinejad acena com a possibilidade de cooperar, com a outra procura enviar mensagens beligerantes a EUA e Israel. Nesta semana, assim como já ocorreu tantas vezes, a República Islâmica realiza exercícios militares no Estreito de Ormuz, passagem estratégica por onde em 2011 passaram 17 milhões de barris de petróleo por dia – quantidade equivalente a um terço da produção mundial.
Além de exibir seus mísseis de médio e longo alcances, o Irã ameaça fechar o Estreito de Ormuz em resposta às novas sanções contra seu programa nuclear. Num momento de crise profunda na Europa e de lenta recuperação da economia americana, este seria um golpe bastante significativo e que agravaria a situação no Ocidente. Se levarmos em conta a mínima racionalidade dos atores envolvidos, particularmente não acredito que os iranianos lancem mão deste recurso. Não porque nutram grandes sentimentos pelos países ocidentais, muito pelo contrário, mas porque esta estratégia serve mais como trunfo político do que como medida prática. Ela não resolve os problemas domésticos e ainda isolaria ainda mais o país, dando, inclusive, novos elementos aos EUA.
No entanto, este ano de 2012 promete acrescentar novos capítulos a este lenga-lenga. Uma das principais fontes de embates e discussões certamente será externa ao Irã. A campanha presidencial americana vai ser duríssima. E desde já o Irã é um dos focos dos debates na área de política externa. Se Obama pode se vangloriar da saída dos militares do Iraque e do assassinato de Bin Laden, os republicanos vão atacar o presidente com o prosseguimento do programa nuclear iraniano. O tema é especialmente doloroso a Barack Obama porque nos últimos quatro anos ele de fato não conseguiu encontrar meios de resolver este assunto. Não usou a temerária opção do ataque militar, nem tampouco encontrou argumentos capazes de solucionar este impasse através de negociação.
Para azar do presidente americano, seu “colega” israelense Benjamin Netanyahu conta com suas próprias armas retóricas: tem interesse em maximizar as discussões sobre o Irã para ganhar tempo nos assuntos regionais e adiar o máximo que puder uma solução definitiva com os palestinos; tem amplo acesso aos círculos políticos nos EUA e é admirado por boa parte dos congressistas em Washington; e, para completar, mantém péssima relação com Obama – ou seja, não hesitará em atuar nos bastidores para prejudicá-lo. Para Netanyahu (não para Israel, é bom deixar claro), o melhor que pode acontecer é a eleição de um presidente republicano. A sorte de Obama é que nenhum dos pré-candidatos do Partido Republicano possui minimamente a sua capacidade retórica. No entanto, é bom que fique atento às atitudes do governo de Ahmadinejad. Até porque o presidente iraniano sabe de seu poder neste período eleitoral e fará de tudo para chamar a atenção de forma a obter ganhos políticos e materiais.
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