quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

As distintas visões de Israel e do presidente Obama sobre o programa nuclear iraniano

Assisti a um programa num canal brasileiro de jornalismo sobre o atual confronto verbal entre EUA e Irã. Foi bastante interessante, mas um dos entrevistados – um professor universitário francês – proferiu uma das maiores bobagens sobre o assunto (com todo o respeito): ele disse que o dilema deste momento se encaixa na prática ocidental de “fabricação do inimigo”. Como assim? Desde que mantenho este espaço há mais de três anos, procuro me ater mais às análises e menos às minhas opiniões. Naturalmente, uma análise sempre é uma manifestação opinativa, claro. Mas não criei este blog para ser um reflexo narcisista de minhas visões sobre as questões. Seja como for, é preciso ser claro em minha resposta hipotética ao professor francês.

O Irã como ameaça ao Ocidente – e particularmente a Israel – não é uma “fabricação”, mas uma reação óbvia às próprias manifestações institucionais iranianas. A mais emblemática delas, e que não pode ser esquecida como se ela nunca tivesse existido, é o discurso do presidente Mahmud Ahmadinejad na ONU. Em tal ocasião, o líder político da República Islâmica disse que iria “varrer” um outro Estado membro das Nações Unidas (no caso, Israel) para fora do mapa. Esta afirmação foi repetida inúmeras vezes. E não foi “fabricada” por ninguém além do próprio regime iraniano.

Sobre um suposto ataque militar às instalações nucleares iranianas há mais um clima de expectativa do que sinais evidentes, é preciso dizer, e todos os principais interessados nisso negam qualquer planejamento. O ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, disse que a possibilidade de um ataque está muito distante. O presidente Obama diz o mesmo. Aliás, se tivesse de apostar, diria que os EUA só atacarão o Irã caso Israel decida agir unilateralmente. E, ao contrário do que se imagina, a viagem do chefe das forças armadas americanas, General Martin Dempsey (foto), a Israel deve ser mais para frear eventuais ímpetos israelenses do que para planejar o ataque conjunto, como muita gente vem especulando.

E é importante ter muito claro que os dois países têm visões absolutamente distintas sobre a ameaça iraniana. Ou melhor, Israel e o presidente Obama discordam sobre o assunto na origem mesmo. E a diferença é muito básica e com ela encerro este texto: para a administração atual da Casa Branca, não vale o investimento militar, econômico e político num ataque ao Irã porque os estrategistas do governo americano garantem que a República Islâmica não está produzindo armamento nuclear neste momento e sequer teria chegado a uma decisão clara quanto a isso. Para Israel, o momento iraniano faz diferença, mas ele não é o ponto fundamental da questão. Para os israelenses, a simples capacidade do regime de Teerã de poder produzir armamento nuclear já altera fundamentalmente – e perigosamente, sob o ponto de vista do Estado judeu – o equilíbrio geopolítico do Oriente Médio. Isso, por si só, já é uma questão de sobrevivência para Israel e, obviamente, justificaria o ataque.

Um comentário:

Luiz Gomes disse...

Quer dizer que Israel pode ser uma ameaça ao povo Palestino e tudo bem?!
Os EUA podem saquear o Iraque e manter sua ocupação no Afeganistão, que tudo bem?!
QUANTO CINISMO!