A nova estratégia militar americana divulgada pessoalmente pelo presidente Barack Obama certamente será mais um tema-chave da campanha presidencial. Os cortes são bastante expressivos. A ideia é que representem 8% da verba de defesa atual e que totalizem 487 bilhões de dólares ao longo dos próximos dez anos. É claro que os republicanos são contrários. Seus pré-candidatos levantam bandeiras que estão absolutamente na contramão das intenções de Obama. Algumas das propostas dos últimas dias dão conta de um aumento dos gastos de defesa de maneira permanente, acréscimo de 100 mil soldados no efetivo e até invasões terrestres em Síria e Irã.
O recuo estratégico de Obama vai além das obviedades das restrições econômicas que os EUA enfrentam. Representa também uma tentativa de retorno a seu passado recente, quando apareceu de maneira fenomenal no cenário político americano e internacional como uma possibilidade de mudança real. Nos últimos quatro anos, o presidente atuou de forma mais convencional do que se esperava. Por isso, deixou para o final da festa a sua versão reloaded: o fim da Guerra do Iraque – por mais que a guerra continue, os soldados americanos deixaram o país – e, finalmente, essas novas diretrizes.
Nada disso foi planejado desde o começo, é bom dizer. As circunstâncias contribuíram para este posicionamento. Por exemplo, a intenção inicial dos EUA era deixar mais tropas no Iraque, mas o parlamento iraquiano barrou essas expectativas. No caso do novo orçamento de defesa, a crise econômica juntou as partes soltas. Para completar, a ascensão chinesa e a possibilidade real de os EUA ficarem cada vez mais distantes dos negócios e do acesso ao Mar do Sul da China estão no centro desta nova estratégia. Obama não é bobo e, diante do quadro cada vez mais favorável à China, optou por realocar soldados e equipamentos militares. Para que manter 80 mil homens na Europa se o centro do comércio mundial está cada vez mais estabelecido na Ásia?
Eu não escrevi errado. A estratégia militar não está de nenhuma maneira desvinculada das ambições econômicas. Justamente porque o eixo se deslocou para a Ásia e os americanos enfrentam a lenta recuperação da crise, os EUA não querem deixar a região nas mãos dos chineses pura e simplesmente. O problema é que Beijing naturalmente percebe as pretensões americanas e se sente ameaçada. Tanto que, após a divulgação do orçamento de defesa, a Xinhua, agência de notícias oficiais da China, divulgou nota que deixa claro a posição do país: “o militarismo american pode colocar a paz em risco”. A mensagem está bem clara, certo?
Em breve analisarei esta nova postura de Obama com maior profundidade. Até porque se trata de uma tentativa de fortalecimento da imagem idealizada do presidente americano às vésperas das eleições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário