terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O ponto alto da nova crise no Oriente Médio

A guerra generalizada no Oriente Médio que todos temem nunca esteve tão próxima de acontecer. Há uma série de fatores que apontam este caminho, infelizmente. É muito pouco provável, no entanto, que os EUA topem levar adiante um ataque terrestre ao Irã. A disputa presidencial americana e os muitos riscos – políticos e financeiros – que envolvem tal operação podem impedir que tal esforço militar seja concretizado. Mas, que fique claro, é muito provável que manobras alternativas sejam efetuadas porque os projetos geopolíticos de americanos e iranianos nunca estiveram em rota de choque como agora.

Vamos a eles, antes de mais nada: os EUA sempre defenderam seus aliados na região, mantendo a hegemonia de Israel, mas também protegendo os regimes sunitas. Este equilíbrio favorável aos americanos está prestes a se perder, uma vez que há chances reais de o Irã alcançar a virada com a qual seus líderes sonham. A saída americana do Iraque deixou um vácuo que pode ser preenchido pelas alianças entre os xiitas locais e a cúpula política e religiosa do vizinho islâmico (o próprio Irã, a maior potência xiita do planeta). Além do Iraque, os iranianos podem contar desde já com Hamas, em Gaza, Hezbollah, no Líbano, e a Síria – todos localizados nas fronteiras de Israel.

Ao contrário do que todo mundo imaginava – eu, inclusive – Bashar al Assad ainda não caiu. Este é um pilar de grande importância ao Irã. Se o presidente sírio se mantiver no cargo e continuar a sustentar seu poder, o Irã estará fortalecido mais do que nunca. Se os planos correrem como Ahmadinejad e Khamenei imaginam, os iranianos terão o seguinte quadro de influência, alianças políticas e suporte econômico: Síria, Iraque, Hamas e Hezbollah. Isso sem falar que, apesar das pressões americanas, Japão, Índia e China não parecem dispostos a deixar de comprar o petróleo da República Islâmica.

Ao mesmo tempo, nesta semana, o general Amir Eshel, chefe do planejamento estratégico das forças armadas israelenses, admitiu publicamente – até como forma de jogar a bola para o lado dos EUA – que Israel não terá como se movimentar militarmente com a desenvoltura atual, caso os iranianos de fato consigam produzir armamento nuclear. Isso faz sentido, uma vez que Hamas e Hezbollah (localizados nas fronteiras sul e norte de Israel, respectivamente) se sentirão seguros para provocar com maior tranquilidade, na medida em que poderão se garantir por uma eventual bomba atômica iraniana. Eshel assume que a estratégia levada adiante por Ahmadinejad é de certa maneira vencedora.

A única questão que não pode ser esquecida neste caso é o fio-condutor da geopolítica israelense desde a criação do Estado judeu e que supera divergências partidárias: em nome da sobrevivência do país, nenhum outro ator regional pode chegar a ter o poder de superar – ou mesmo igualar – a capacidade militar de Israel a ponto de ameaçá-lo. Este é um fator importantíssimo e que não pode ser desconsiderado. Na prática, ele significa que qualquer gabinete israelense deve impedir que tal configuração se torne realidade. Por conta disso tudo, acho que teremos mais movimentações regionais num futuro muito breve.

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