Os elementos de atrito entre EUA e Irã não param de aumentar. Ainda não está claro o quanto se trata de bravata de ambas as partes, mas a situação lembra um pouco a Guerra Fria: ameaças, disputa por influência, articulações e busca por alianças. Até antigos slogans foram resgatados. Aliás, de uns tempos para cá, a política internacional voltou a adquirir esta roupagem vintage. O termo “Guerra Fria” já vem sendo usado no Oriente Médio para nomear a batalha cada vez menos silenciosa entre sunitas e xiitas (e entre sauditas e iranianos, mais especificamente).
No caso particular da “Guerra Fria” entre americanos e iranianos, o presidente Mahmoud Ahmadinejad tenta a todo custo escapar dos efeitos das sanções internacionais – cuja aplicação tem sido abertamente coordenada pelos EUA. É preciso perceber a estratégia de Washington como um jogo de gato e rato para frear as ambições nucleares da República Islâmica. É claro que o cerco ao programa nuclear do Irã tem efeito limitado, uma vez que há alternativas comerciais além das transações com o Ocidente (a União Europeia deve aderir também): Índia, China e outros grandes compradores asiáticos devem prosseguir com a importação de petróleo, dando um respiro à economia iraniana.
Os passos estratégicos em curso neste momento mostram como o governo Ahmadinejad decidiu agir. Escrevi na semana passada que a América Latina representava uma alternativa de escape. E por isso o presidente do Irã optou por visitar parceiros no continente (Venezuela, Nicarágua, Cuba e Equador). É uma tentativa de viabilizar a manutenção econômica do país diante das restrições que estão por vir. Mas não se trata somente de aprofundar acordos já existentes. A ideia iraniana é aplicar o mesmo padrão ideológico de sua política externa para fugir das sanções.
Ou seja, estabelecer relação com líderes latino-americanos que têm em comum uma péssima relação com Washington representa uma busca por um verniz ideológico às ações iranianas. Assim, Ahmadinejad procura dar legitimidade a seu programa nuclear numa escala global, transformando-o numa arma internacional contra o “imperialismo americano”. O presidente iraniano percebeu que este discurso ainda tem seu público – principalmente na América Latina. E se os EUA têm no continente um espaço de atuação histórico, este tipo de atitude acaba por se transformar numa espécie de enfrentamento direto ao poderio político norte-americano. Diante deste quadro, a dúvida é saber como irá terminar esta escalada de ações, discursos e empreendedorismo nuclear.
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