Na segunda-feira, escrevi sobre o conturbado início de ano para o Irã. A situação está cada vez pior para o governo de Mahmoud Ahmadinejad, uma vez que a pressão internacional sobre seu programa nuclear só tem aumentado. Além das sanções impostas em 2011, o presidente Barack Obama ordenou restrições ao Banco Central iraniano, o que afunda ainda mais o regime de Teerã, restringindo suas movimentações comerciais e econômicas.
O rial, a moeda do Irã, já atinge 35% de desvalorização e, apesar das declarações oficiais de Mahmoud Bahmani, diretor do BC local, de que o país tem reservas para mais de seis meses, a vida das pessoas comuns está ruim, muito ruim. Enquanto nas ruas os cidadãos fazem o que podem para obter moeda estrangeira, a marinha continua a realizar exercícios estratégicos no Estreito de Ormuz. Como escrevi, o assunto é tratado como grande trunfo contra as sanções, mas vale dizer que a parte sul da passagem é reconhecida como “águas internacionais” e, portanto, o trânsito de embarcações civis é garantido.
Se fechar todo o Estreito de Ormuz, o Irã perderá a legitimidade de seu discurso. E, nunca é demais lembrar, os iranianos tratam legitimidade como questão estratégica: questionam a movimentação de navios americanos no Golfo, a ocupação israelense de territórios palestinos e buscam a sua própria para justificar a corrida pela hegemonia regional. Ou seja, a República Islâmica está envolvida numa daqueles situações ingratas: se não fizer nada, sua economia afunda; se lançar mão de seu único trunfo, perderá a legitimidade internacional, o que isolará ainda mais o país; e, para piorar, a única alternativa aceita pelo Ocidente é o recuo em seu programa nuclear, o que representaria a maior derrota política do governo Ahmadinejad.
Por conta disso tudo, os iranianos há algum tempo articulam alianças externas distintas. Os acordos de comércio assinados com os países latino-americanos são parte desta estratégia de escape. Tanto que a TV oficial iraniana já declara que a “cooperação com a região é prioridade para o regime”. Se este tipo de atuação poderia em tese representar um respiro diante das pressões, o momento em que o Irã vai precisar dela é problemático. Justamente o ano eleitoral nos EUA. Por mais que os americanos tenham praticamente abandonado a América Latina nos últimos quatro anos, qualquer atividade mais profunda dos iranianos no continente será notada. Principalmente pelos republicanos. E, para azar das autoridades da República Islâmica, os oficiais americanos ainda não engoliram o suposto contato entre membros da força Quds e gangues de narcotraficantes mexicanos no plano frustrado de assassinato do embaixador saudita em Washington, em outubro passado.
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