De tempos em tempos, o Irã joga a isca para a comunidade internacional. O objetivo sempre é aliviar as pressões sobre o país, ainda mais neste momento de crise econômica profunda: a inflação sobe e parte do dinheiro some. A perspectiva de perder a plenitude dos recursos angariados com as vendas de petróleo – que respondem por cerca de 80% das exportações do país – certamente vai agravar ainda mais a situação na República Islâmica. Diante deste cenário, o presidente Ahmadinejad declarou publicamente que está disposto a conversar.
Mas como nada é simples no Oriente Médio, o líder iraniano foi claro o bastante ao dizer que conversar não significa interromper o programa nuclear. Na prática, Ahmadinejad quer ganhar tempo. Como ninguém quer simplesmente dialogar com os iranianos sem que haja qualquer possibilidade de evitar a continuidade do desenvolvimento nuclear de Teerã, é bem possível que o resultado de novas conversas seja exatamente o mesmo das anteriores; a permanência do impasse.
Como já escrevi bastante por aqui, negociar é aceitar intimamente que algo vai ser perdido. No caso específico da tentativa de diálogo entre o Ocidente e o Irã temos um problema sério neste aspecto: nenhum dos negociadores ocidentais quer assumir publicamente que estaria disposto a tolerar que os iranianos tenham capacidade nuclear; e nenhum representante iraniano quer se dobrar frente à demanda ocidental – justamente a interrupção do programa nuclear. Ou seja, ainda estamos longe de uma solução razoável.
Se há algo de positivo nesta situação é o fato de nunca antes uma figura do escalão de Ahmadinejad ter dito publicamente que está disposto a conversar. Por outro lado, certamente não será ele que protagonizará qualquer retrocesso. Simultaneamente a isso, é preciso dizer que o Irã já está sentindo os impactos das sanções (por mais que as europeias comecem somente a partir de 1 de julho). Segundo relatório do Institute for Science and International Security publicado nesta quarta-feira, é pouco provável que o país consiga obter armamento nuclear porque sua capacidade de enriquecimento de urânio permanece limitada. Este quadro não deve mudar ao longo do ano. Ainda de acordo com o relatório, o governo iraniano tem acusado o golpe provocado pelas sanções e realmente teme a possibilidade de um ataque israelense.
Talvez o Ocidente tenha alcançado seus objetivos em relação ao programa nuclear iraniano. No entanto, termino este texto com a brilhante reflexão lançada por Mark A. Heller, pesquisador do Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv:
“Talvez valha a pena lembrar que o Império do Japão não atacou os EUA por ter sido fisicamente atacado pelos americanos, mas porque estava sendo esmagado economicamente (da mesma forma como acontece com o Irã agora) até o ponto em que concluiu que a guerra era preferível ao estrangulamento em câmera lenta”, escreve.
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