Os protestos populares em Nova Iorque reafirmam um ano repleto de mudanças e simbolismos. Durante a semana passada, quando o presidente palestino Mahmoud Abbas esteve na mesma cidade para pedir o reconhecimento da ONU a um Estado palestino, escrevi muito sobre simbolismos e significados. A conclusão a que tentei chegar – e os argumentos que usei ao longo deste ano – apresentam a minha visão pessoal sobre o assunto. E, pelo menos para mim, fica muito claro que existe uma interpretação um tanto distorcida sobre este assunto, na medida em que há uma espécie de consenso de que o simbólico vale muito menos.
A minha dúvida é bastante prática: o simbolismo vale menos quando comparado a que exatamente? Se comparado a leis estabelecidas, o que é simbólico pode até valer menos sim. Mas talvez esta inferioridade seja temporária. O ano de 2011 é bastante representativo. Quando manifestantes na Tunísia e no Egito tomaram as ruas e protestaram contra as inúmeras regras estabelecidas e vigentes há décadas, jamais imaginariam que poderiam provocar tantas mudanças. Até o momento em que ficou claro que seus países estavam parados pelos protestos, eles não tinham nada em troca. Era, portanto, uma batalha meramente simbólica, quando se leva em conta que o simbólico é também uma oposição ao que é concreto – pelo menos na definição dos que acreditam que o simbolismo está numa escala inferior.
E aí chegamos aos protestos em Nova Iorque. Há muitos simbolismos importantes nessas manifestações. O primeiro deles é que mostra a força do povo americano que, finalmente, acordou diante da crise. Se por um lado o governo Obama é alvo dos protestos, pela primeira vez desde o surgimento do Tea Party – o movimento ultraconservador de direita – a oposição popular aos desmandos do mercado tomou as ruas. E, com muita precisão, escolheu, simbolicamente, o centro dos problemas recentes da população comum dos EUA. Como não culpar a voracidade de Wall Street pela crise financeira? Como esquecer a enorme ajuda financeira governamental repassada aos bancos, enquanto as pessoas, através de seus impostos, assistem à Casa Branca destinar o resultado do trabalho real a bônus de executivos financeiros?
O que está acontecendo agora não é apenas justificável, mas também natural. A corda foi esticada a tal ponto que era previsível que isso fosse acontecer. Curiosamente, 2011 também é o ano da retroalimentação. Artigo da revista Time defende que as atuais manifestações nos EUA são a continuidade dos acontecimentos populares em Madri. Esta afirmativa é parcialmente correta porque não se pode atribuir este movimento a apenas um outro. Como este ano profundamente simbólico – e alguém ainda duvida do poder do simbolismo? – tem mostrado, os movimentos estão todos encadeados. O que está em curso em Nova Iorque neste momento está vinculado a Madri, mas também às manifestações por reformas democráticas nos países árabes, à luta da população israelense contra o alto custo de vida no país, aos protestos contra as medidas de austeridade na Grã-Bretanha e na Grécia. Isso sem falar na Revolução Laranja, levada adiante pela população ucraniana, entre 2004 e 2005.
O encadeamento histórico é curioso mesmo. Havia a impressão de que todas as ideologias estavam relegadas ao século vinte. Isso pode até ser verdade, mas este ano tem deixado claro que, por mais que as pessoas não estejam fechadas em torno de um slogan ou de um partido, elas estão dispostas a ir às ruas para lutar por direitos a que não têm acesso (como no caso das populações dos países árabes) ou contra injustiças cometidas no próprio sistema democrático em que estão inseridas (casos dos movimentos populares de Europa e Israel).
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