Perceberam como aos 45 minutos do segundo tempo o presidente americano, Barack Obama, está conseguindo virar o jogo a seu favor? Isso vale, pelo menos, para a política externa. Em apenas uma semana, a Casa Branca conseguiu duas importantes vitórias políticas: a queda de Kadafi, na Líbia, e o fim da guerra do Iraque. É importante dizer, no entanto, que este último resultado é, em grande parte, fruto da vontade pessoal de Obama. Era sua carta na manga a ser usada quando a situação se estabilizasse e, principalmente, quando julgasse ser o melhor momento.
Foto: Obama em Las Vegas, nesta segunda-feira
E, claro, política é pragmatismo. Portanto, o melhor momento é durante a curva de ascensão rumo às eleições presidenciais. Dar fim à guerra do Iraque era mesmo uma promessa de campanha e coube à astúcia do presidente dos EUA reverter uma situação que o desagradava. Houve pouco comentário a respeito, mas o fato é que a retirada de todas as tropas não era o cenário ideal a Washington. A ideia era alcançar um acordo com o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, e manter bases americanas no país, além de milhares de soldados. Não houve consenso entre as partes. Por isso, ao invés de anunciar isso simplesmente, Obama preferiu dar o passo definitivo e encerrar a guerra.
É uma estratégia interessante de sua parte não apenas pela situação relativamente mais pacífica no Iraque, mas também porque o anúncio acabou sendo catapultado pela execução de Kadafi, na Líbia. Em uma semana, Obama encerrou dois conflitos no Oriente Médio. Dá para negar o poder de resultados como esses? Ainda mais numa região que o imaginário internacional interpreta e comunica como a mais problemática do mundo.
A morte de Kadafi deu fim aos problemas da Otan e dos EUA, é bom que se diga. Desde o início da intervenção, há sete meses, era muito questionável a estratégia adotada. O que fica muito claro para mim é que as potências ocidentais entraram neste conflito interno líbio mais para não perder o bonde da Primavera Árabe do que por qualquer argumento humanitário. Se a preocupação com o assassinato em massa das pessoas comuns e indefesas em luta por liberdade fosse a única questão envolvida, esta mesma intervenção que derrubou Kadafi partiria agora para a Síria. Mas isso não vai acontecer. No final das contas, a morte de Kadafi deu sentido à operação, uma vez que nunca ficou claro o objetivo da empreitada militar ocidental. Até agora, jamais seus comandantes chegaram a um consenso sobre as metas finais. Matar Kadafi, exilá-lo, forçá-lo a realizar eleições eram opções que nunca foram assumidas publicamente.
Agora, após a execução de Kadafi, fica fácil cantar vitória. Com o ditador líbio fora do jogo, Obama e a Otan podem respirar aliviados. O problema não está plenamente resolvido porque mantenho a minha posição de sempre; por mais que apostar no Conselho Nacional de Transição seja a única alternativa, no fundo não dá para garantir que este emaranhado de fidelidades e ideologias irá mesmo transformar a líbia numa democracia real. Por ora, no entanto, Obama está cheio de conquistas a apresentar: um modelo de guerra na Líbia que não custou a vida de nenhum cidadão americano, a captura de Osama bin Laden e o fim da guerra do Iraque. Na prática, são resultados muito melhores do que os alcançados pela administração anterior.
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