Com o número de mortos aumentando no Egito, a situação num dos principais pilares do Oriente Médio se torna ainda mais grave. Se a derrubada de Hosni Mubarak após 18 dias de protestos provocou otimismo internacional, houve uma falsa interpretação de que os egípcios haviam resolvido o problema. O país era o ponto de ebulição da Primavera Árabe e também receberia suas primeiras benesses. Por se tratar de um aliado americano e com grande penetração nos organismos multilaterais, deveria ser o que mais facilmente se adaptaria às demandas populares.
O Egito seria uma espécie de palco de vanguarda deste novo mundo árabe. A queda de Mubarak marcaria o início de uma nova era nacional que, se bem trabalhada – e havia indícios para se acreditar nisso –, poderia se espalhar pela região positivamente. O Egito tinha tudo para ser um belo exemplo aos demais países árabes. O problema é que havia um impedimento prático a isso: os militares.
É importantes dizer que as forças armadas egípcias se apoderaram de funções pouco comuns a militares.São os principais agentes econômicos do país e estão direta ou indiretamente ligados à gestão ou participação de 70% dos negócios nacionais. Como escrevi durante a derrubada do ditador Mubarak, o espectro de empresas vai de tanques de combate à fábricas de liquidificadores. Ou seja, qualquer um que conhecesse um pouco do tecido social e econômico egípcio poderia supor que o exército não estaria satisfeito com o papel de mero coadjuvante nesta nova oportunidade política que se descortinou.
Deu no que deu. O problema é que esta sede por poder pode se transformar num tiro no pé e num tiro para o alto – este último pode cair bem perto dos EUA. O exército passou de herói a vilão na visão das pessoas comuns. Isso está muito claro. O problema é que, desde a queda de Mubarak, os EUA têm estabelecido contatos próximos e intensos com as principais figuras militares do Egito porque, na prática, simplesmente ficaram sem interlocutores num aliado importante no Oriente Médio. Antecipando-se à ira popular, Washington adotou a única estratégia possível: condenar a morte de civis durante a nova leva de protestos e exigir que as eleições presidênciais democráticas sejam realizadas o quanto antes.
O tiro no pé que mencionei diz respeito a uma informação bastante conhecida. Maior financiador do Egito, os americanos entregam aos cofres egípcios três bilhões de dólares anuais. Deste total, 1,3 bilhão em ajuda militar. Caso não cumpram a cartilha americana, a Casa Branca tratará de fechar as torneiras. Simples assim. Por isso, é bem possível que as forças armadas recuem diante da enorme pressão popular e internacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário