O processo eleitoral egípcio não é somente longo, mas também lento e confuso. As eleições que começaram nesta segunda-feira serão realizadas em três etapas, tendo como ponto final o dia 11 de março de 2012. Aliás, o esforço de burocratização é tão grande que há inúmeras questões nisso tudo. Por exemplo, mesmo após encerradas no terceiro mês do ano que vem, ainda haverá muitas dúvidas. Os parlamentares já estarão escolhidos, mas ninguém poderá dizer se o país será de fato um Estado democrático.
Principalmente devido à lacuna que mais atormenta os manifestantes da praça Tahrir: quando o Conselho Supremo das Forças Armadas irá largar o poder? Por mais que eleições parlamentares supostamente limpas (e esta também é uma dúvida em aberto) representem por si só um avanço, os manifestantes que estão nas ruas exigem um governo civil. E isso o Egito não tem hoje. O cronograma oficial estabelece a realização da eleição presidencial somente em julho de 2012. Até lá, ninguém sabe o que poderá acontecer.
Mesmo depois disso, o futuro egípcio permanecerá como um grande ponto de interrogação. Principalmente porque há a promessa de o parlamento e também da junta militar redigirem uma nova constituição. E aí reside um dos aspectos mais intrigantes de todo este processo: qual será o papel do islamismo político na condução deste “novo” Egito? Ainda é cedo para elucubrações por conta dos resultados ainda desconhecidos deste pleito parlamentar. Mas não há dúvidas quanto à presença do islamismo político na formação do Egito pós-Mubarak – o que causa pavor aos EUA.
Aliado histórico americano, influente ator árabe, pilar de sustentação do Oriente Médio e primeiro país árabe a assinar um acordo de paz com Israel, o Egito é um dos Estados mais importantes da região por muitos motivos distintos. Se a Casa Branca parece não ter se importado com a vitória do partido islâmico Ennahda na Tunísia é porque o peso do país é muito menor e também porque o islamismo político tunisiano também é bem diferente daquele representado pela Irmandade Muçulmana. O Ennahda quer aplicar na Tunísia um modelo similar ao da Turquia e se autodeclara uma legenda moderada. Como se sabe, não é este o caso dos islâmicos egípcios.
Se a Irmandade Muçulmana conseguir a maioria dos assentos e um papel de protagonismo no Egito, causará problemas ao presidente do EUA. Barack Obama será obrigado a interagir pela primeira vez com um grupo que tem no discurso anti-israelense uma de suas principais plataformas. Obama precisará encontrar uma solução complicada para esta equação, já que não será possível simplesmente ignorar o novo governo egípcio, mas também terá de lidar com pesadas críticas domésticas às vésperas das eleições presidenciais americanas.
Um comentário:
Não acredito no poder da votação da maneira como está sendo colocada.
Fiz até um post. http://cabanadeinverno.wordpress.com/2011/11/30/eleicoes-no-egito-democracia-ditatorial-e-batman/
Eu creio que haverá a votação de um partido conservador e, portanto, a legitimidade das mazelas que já ocorriam
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