sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Uma possibilidade real e preocupante no Egito

Essa nova onda de protestos no Egito é muito inconveniente aos EUA, mas bastante satisfatória à Irmandade Muçulmana. A situação de tranquilidade do grupo é fruto da incompetência na gestão do país pelo Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), da conjuntura regional e também de um pouco de sorte.

O CSFA se atrapalhou graças à própria ambição. Se tivesse agido conforme prometido, teria providenciado eleições parlamentares e presidenciais o mais rápido possível. Mas, ao sentar sobre o poder e ser seduzido pela possibilidade de liderança política, perdeu a mão e a credibilidade junto à população. Os protestos são a consequência mais óbvia disso. Os militares no Egito são como aqueles zagueiros atrapalhados que, ao recuar a bola para o goleiro, acabam deixando o atacante adversário na cara do gol. E é isso o que está acontecendo.

A Irmandade Muçulmana já estava em vantagem desde fevereiro. Porque, mesmo durante os anos da ditadura Mubarak, conseguia eleger seus representantes sob o subterfúgio da candidatura independente dos parlamentares. Assim, como alardeado durante o processo de derrubada do ex-presidente, o grupo é o mais organizado politicamente. Um outro aspecto importante diz respeito à visão da população mais humilde. Para esta camada, a Irmandade foi a única a conseguir se firmar como oposição a Mubarak. E há alguma razão nisso.

A conjuntura regional também é favorável. Na Tunísia, os islâmicos organizados politicamente saíram vitoriosos do novo processo eleitoral. Com a pretensão declarada de aplicar um modelo similar ao da Turquia, seduziram não apenas os eleitores, mas também o ocidente. Se é possível conviver com os islâmicos de Ancara, também é possível negociar com os da Tunísia.

A sorte da Irmandade Muçulmana egípcia está no conjunto de todos esses fatores, mas também no fato de que o grupo não precisa fazer nada em oposição ao que o próprio ocidente espera que aconteça. Pelo menos, não por ora. A luta da população contra a junta militar é para que ela realize eleições. A Irmandade Muçulmana quer o mesmo. Justamente porque sabe que, no pleito que tem início na próxima segunda-feira, ela tem tudo para se tornar o grupo com maior representatividade no parlamento. É a democracia trabalhando a favor de um grupo islâmico abertamente radical em suas posições.

Não será a primeira vez que isso vai acontecer. Logo ao lado, em Gaza, em 2006, o Hamas participou e venceu as eleições parlamentares palestinas. E o que aconteceu? O grupo matou integrantes do Fatah – partido majoritário que compõe a moderada Autoridade Palestina – e os que sobreviveram à guerra interna foram expulsos para a Cisjordânia. Até hoje, não podem retornar. É claro que ninguém pode garantir que o mesmo irá acontecer no Egito (até porque se trata de um país estabelecido, com 80 milhões de habitantes e membro pleno da comunidade internacional), mas é uma lembrança recente de um evento de características parecidas. É o bastante para deixar todo o mundo preocupado.

Nenhum comentário: