Num desses telejornais noturnos que encerram o ciclo de notícias e análises do dia vi uma explicação de um professor brasileiro sobre a eventual ofensiva ao Irã. Segundo sua posição, Israel teria interesse nesta guerra de forma a acabar com seu próprio isolamento diplomático. Por mais que respeite as muitas teorias que se criam em torno de uma possibilidade militar como esta em questão, não concordo com ela. E por razões bastante simples, que tem a ver com o texto publicado por aqui nesta quinta-feira: ora, por mais que as alianças internacionais israelenses estejam enfraquecidas, a vida do país não está parada ou ameaçada (pelo menos não é esta a situação que se possa enxergar num curto prazo).
Já uma guerra aberta com os iranianos representa problemas sérios e práticos – dentre eles, inclusive, o risco de Teerã lançar armas atômicas sobre o Estado judeu. Tenho certeza absoluta que, por mais doloroso aos líderes israelenses este isolamento internacional, jogar com a própria existência do país para reforçar laços não é uma estratégia inteligente ou que faça algum sentido. E, ora, estamos falando de um governo conduzido por Benjamin Netanyahu e pelo ministro das Relações Exteriores Avigdor Lieberman. Se as alianças internacionais de Israel tivessem sido prioridade em algum momento desde 2009, este governo teria tido outra atitude em praticamente todas as questões que dizem respeito à política externa. Como se sabe, não foi este o caso.
Agora, conforme prometido, alguns dados importantes sobre prazos que podem vir a determinar o período deste eventual – e fatal – confronto militar: um aspecto fundamental diz respeito à produção de armamentos do Irã. Segundo especialistas militares, em dois anos o país terá obtido seu sistema de mísseis balísticos. Além desta questão prática, há também os interesses políticos que correm em paralelo. Em novembro do ano que vem, o presidente Obama concorrerá à reeleição e precisará apresentar resultados positivos aos cidadãos-eleitores americanos. Na área internacional, dará ênfase à retirada praticamente completa dos soldados do Iraque, à derrubada de Kadafi, na Líbia, ao assassinato de Bin Laden e à acomodação no Afeganistão.
A partir daí, é preciso uma leitura um pouco mais aprofundada. Há duas opções em jogo: não fazer nada até as eleições, dando ainda mais prazo aos iranianos; ou entrar numa nova guerra no Oriente Médio – possivelmente, a mais complexa e arriscada delas. Se análise fosse aposta, eu apostaria que o presidente americano optará por novas sanções, freando qualquer ímpeto militar das lideranças políticas em Israel. Isso porque mandar mais americanos para morrer no exterior é o tipo de ordem que pode ameaçar de verdade o projeto de reeleição de Obama. No entanto, a situação do presidente é complicada mesmo. Se não fizer nada e de fato Teerã obter armamento nuclear a ser usado contra Israel, será acusado com veemência pelos republicanos. Afinal, este é o tipo de evento que altera a balança regional e coloca os israelenses pela primeira vez numa situação de empate com um vizinho declaradamente inimigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário