Para completar a discussão em torno do movimento “Occupy Wall Street”, alguns pontos interessantes a serem discutidos. Acho que as manifestações têm surtido efeito, apesar de toda a injustificável truculência policial para contê-las. Como escrevi na quarta-feira, em tempos de tentativa de reversão da imagem internacional do Estado americano, o uso de força para acabar com protestos pacíficos representa um gol-contra daqueles. Ainda mais quando lembramos os significados e acontecimentos deste importante ano de 2011.
No fundo, ninguém esperava do país mais orgulhoso de sua democracia a condução tão equivocada dos acontecimentos . Principalmente porque o alvo do poder coercitivo são cidadãos americanos desarmados que, assim como em muitos períodos da história do país, querem apenas protestar. De qualquer forma, sob o ponto de vista dos manifestantes, já se pode dizer que eles participam de um movimento vitorioso. Li numa matéria da agência de notícias Reuters uma definição interessante e que mostra bem como a discussão está acalorada nos EUA.
“Qualquer que seja seu futuro, está claro que, até agora, os manifestantes não mudaram as opiniões em Wall Street quanto à culpa pelo período difícil que o país atravessa”. Parece-me que há uma grande incompreensão em relação aos objetivos do movimento. Certamente, a ideia não é mudar a cabeça daqueles que justamente participam desta dinâmica. Ora, quem seria inocente o bastante para imaginar que isso seria possível? Por que os maiores beneficiados por este sistema aceitariam reduzir seus lucros?
Esta premissa é furada por muitas razões, mas principalmente porque o objetivo dos manifestantes não é convencer os executivos financeiros de que eles são protagonistas de uma ordem injusta. Isso não seria apenas ridículo, mas também improdutivo. “Occupy Wall Street” venceu porque conseguiu transformar a desigualdade americana numa discussão da ordem do dia. Nos últimos anos, este assunto era tabu e estava varrido para debaixo do tapete graças ao poderoso lobby dos correligionários do Tea Party, que são simplesmente contrários à presença do Estado e, por defender este distanciamento, exigem menos cobrança de impostos (inclusive aos muito ricos).
OWS representa um sopro de vida a um país que se encontrava em estágio avançado de letargia popular.
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