O relatório divulgado no final da tarde desta terça-feira (horário de Brasília) pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) simplesmente confirmou com mais dados e informações o que todo mundo já sabia: o programa nuclear iraniano tem fins militares. Este é o tipo de evento que divide não apenas os países, mas as próprias estratégias a serem adotadas a partir de agora. Como um leitor comentou no meu último post sobre o assunto, “não fazer nada não é uma opção”. Ele está certo. E esta certeza compartilhada pela União Europeia, EUA, Israel e até pelos Estados árabes sunitas é que muda o jogo definitivamente.
Estão lançadas algumas das pergunta que tiram o sono de boa parte dos líderes mundiais: como impedir o Irã de obter armamento nuclear? O mundo está disposto a aceitar que o regime de Teerã dê este salto estratégico? No caso específico de Israel, o Estado judeu conviveria com esta nova realidade?
Pois é, não são questões fáceis de serem resolvidas. E certamente envolvem Israel e EUA e os posicionamentos de seus respectivos governos. Do ponto de vista israelense, a doutrina de segurança determinante a todas as decisões do país é até bastante simples de ser compreendida: nenhum inimigo regional ou ator que represente alguma ameaça pode estar em condições de igualdade ao Estado judeu. Isso porque a história israelense não permite que o país corra o risco de perder algum confronto. No caso específico do Irã, acho que ninguém contesta seus “atributos” de inimigo e ameaça a Israel, certo?
Diante desta realidade, Jerusalém tem na prática que escolher entre duas opções muito difíceis: atacar o Irã – mesmo sem o apoio dos EUA e da comunidade internacional, se for este o caso – ou abrir um precedente único e histórico em sua doutrina de segurança e conviver com a sombra de um regime liderado por Khamenei e Ahmadinejad aditivado por uma bomba atômica capaz de mandar Israel pelos ares num aperto de botão. Para ser bastante franco, os israelenses não vão correr este risco. Se Teerã não interromper seu programa nuclear de uma maneira ou de outra, os iranianos serão impedidos militarmente e, se necessário, unilateralmente.
A discussão nos EUA neste momento diz respeito à disposição de Barack Obama de levar a sério esta iniciativa. Assim como abordei este assunto na última sexta-feira, muita gente tem feito o mesmo. A variável das eleições no ano que vem tem sido citada, claro. Eu concordo com ela e também me aprofundei nesta questão, inclusive. Possivelmente, a Casa Branca vai tentar de todas as formas convencer os membros do Conselho de Segurança da ONU, por um lado, e Israel, de outro, de que as medidas são fundamentais e capazes de frear o planejamento do Irã.
A tendência mesmo é que os israelenses esperem por algum período até tomar alguma atitude. O problema é que este prazo não é indefinido e talvez novembro do ano que vem seja tempo demais. E aí caberá a Obama uma das questões mais complicadas enfrentadas por um presidente americano nos últimos tempos: atacar o Irã, aumentando os gastos em tempo de crise ao iniciar uma nova guerra no Oriente Médio; ou não fazer nada e correr o risco de passar à história como o líder que colocou a própria existência do Estado de Israel em risco.
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