O programa nuclear iraniano está de volta às manchetes. Isso porque a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deve liberar, na próxima semana, um novo relatório com evidências de que a República Islâmica está, de fato, bem perto de produzir armamento atômico. Ao contrário do que as autoridades de Teerã afirmam, os fins não seriam pacíficos, mas militares. Segundo o britânico Telegraph, uma das principais informações deste documento a ser divulgado dá conta de que os iranianos estariam transportando urânio enriquecido das instalações de Natanz para Fordow (foto de satélite), próxima à cidade de Qom; o que causa ainda mais suspeita é o fato de esta base estar localizada no subsolo e revestida por material capaz de resistir a bombardeios.
Este é o início da retomada das discussões, é o detonador que inicia todos os demais movimentos. Segundo o jornal britânico Guardian, a nova exposição da AIEA deve ser um “game-changer”, ou seja, as informações serão tão contundentes que mudarão o cenário atual. Apesar de quatro rodadas de sanções aprovadas no ano passado, a organização deve provar com informações incontestáveis que os iranianos continuam a buscar armamento nuclear. A partir daí, caberá aos países que pretendem impedir o sucesso do Irã buscar outras opções.
À frente desta empreitada estão EUA e Grã-Bretanha. Entre os britânicos, inclusive, há certa animação para atacar o Irã. O Ministério da Defesa já trata, em linhas gerais, de como será esta guerra. Poucos soldados em terra e uso intenso das forças aéreas e navais. A frota já estuda os melhores pontos de ataque para o lançamento de mísseis Tomahawk. Mas onde fica Israel nessa história? É bom deixar claro que o Estado judeu é o maior interessado no assunto, sob todos os pontos de vista a serem analisados.
Israel é o país a que o Irã se refere como o que “deve ser varrido do mapa”. Israel é único que fica no Oriente Médio e alvo principal das provocações verbais iranianas; o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é a figura política internacional a enumerar sempre que pode as ameaças iranianas, levá-las a sério e, também, mostrar entusiasmo quando se cogita a possibilidade de um ataque às bases nucleares da República Islâmica. No entanto, atacar o Irã também significa pôr um enorme alvo no território israelense, nas representações do país no exterior e nas comunidades judaicas espalhadas pelo mundo.
Por tudo isso, esta é a grande discussão do momento em Israel. E, claro, não há unanimidade. Pesquisa encomendada pelo jornal Haaretz mostra uma divisão profunda: 41% dos entrevistados apoiam; 39% são contrários. Há ainda 12% de indecisos. Esta indecisão nacional é fruto de uma retroalimentação com o alto-escalão de poder. Enquanto Netanyahu e o ministro da Defesa, Ehud Barak, aparentam ânimo de frear as ambições nucleares iranianas militarmente, os que executariam tal tarefa mostram cautela. Figuras-chave da área de segurança e do exército não querem fazer o serviço. Pelo menos, não agora.
Se a britânicos e americanos uma guerra com o Irã acarretaria críticas internacionais, os israelenses teriam muito a perder na prática. A retaliação de Teerã seria pesada, uma vez que os mísseis de que dispõem alcançam qualquer cidade de Israel. Além disso, seus aliados na fronteira com o Estado judeu certamente iriam agir; o Hezbollah, na fronteira norte, e o Hamas, no sul. Entre todos os atores envolvidos num eventual ataque, Israel sem nenhuma dúvida receberia os danos mais graves. Mas há outros fatores que talvez empurrem o Oriente Médio para mais uma guerra. Este é um assunto para o texto desta sexta-feira.
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