Desta vez, está mais difícil convencer o Hamas a aceitar o cessar-fogo. Há muitos elementos em jogo, mas existe claramente uma resistência do grupo a encerrar o confronto (foram três negativas formais até agora). E há explicações para isso.
O grande jogo de poder do Oriente Médio é uma questão importante. Como venho escrevendo há alguns anos por aqui, a região é hoje dividida entre os chamados eixos de Estados e entidades sunitas e xiitas. Não necessariamente os países têm maioria xiita ou sunita, mas esta foi a primeira forma de agrupamento. Agora, a situação se sofisticou. De um lado, Irã, Turquia, Qatar, Síria, Hamas e Hezbollah. De outro, Egito, Arábia Saudita, Jordânia – países apoiados pelos EUA. Como o cessar-fogo foi mediado pelo Egito, o Hamas está segurando o máximo que pode. Lembrando aos leitores que o Egito atual é governado por Abdel-Fattah el-Sissi, ex-chefe do exército e responsável direto pela derrubada do presidente Mohamed Mursi, líder da Irmandade Muçulmana egípcia – movimento que deu origem ao próprio Hamas, em Gaza.
Turquia e Qatar eram aliados de Mursi. E perderam influência com o golpe militar que o tirou do poder e enfraqueceu a posição da Irmandade Muçulmana no país.
“O eixo Hamas-Qatar-Turquia está tentando abortar o papel (geopolítico) egípcio, em face de um complô destinado a fragmentar a região em pequenos Estados rivais”, disse o ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shukri.
Em 2012, no último confronto entre Hamas e Israel, o cessar-fogo foi mediado pelo próprio Mursi. Os termos eram os mesmos oferecidos agora pelo Egito ao Hamas. E recusados pelo grupo palestino. Há dois pontos neste caso: o primeiro deles, uma tentativa de não dar a legitimidade a el-Sissi; o outro é uma represália ao cerco que o atual governo do Cairo tem feito aos túneis clandestinos na fronteira entre Egito e Gaza – passagens construídas para a entrada de bens de consumo e armamento no território palestino. Foi simples chegar a um cessar-fogo em 2012 porque, na prática, o ex-presidente Mursi fechou os olhos aos túneis, daí o arsenal mais poderoso que o Hamas tem usado no conflito atual.
Esta é a maneira mais simples de resumir a explicação geopolítica para a dificuldade de pôr fim aos confrontos em Gaza.
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