No Oriente Médio, tudo acontece rápido demais. Os conflitos e discussões se sucedem e, às vezes, pode haver certo esquecimento. Digo isso porque quero tratar rapidamente – muito rapidamente – desta superdimensionada questão entre Brasil, Israel, anões e goleadas.
Para ser bem sucinto, o Brasil não é um anão diplomático. Até a própria imprensa de Israel reconhece isso. Com a ampliação de sua economia e dos esforços internacionais do governo Lula, seu protagonismo internacional também aumentou. Tanto que o país é liderança regional indiscutível. E se países isoladamente não fazem grande diferença – pelo menos a maioria deles, claro – , ninguém há de desprezar um continente inteiro. Como lembrou o Jerusalem Post, quando o Brasil reconheceu a formalização de um Estado palestino, em 2010, outros sul-americanos fizeram o mesmo.
A piada sempre ganha mais força e é natural a imprensa brasileira repercutir a dolorosa menção aos 7 a 1 diante da Alemanha. Mas acho mais relevante entender a mensagem real deixada pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Yigal Palmor: se o Brasil tinha algum tipo de pretensão de participar de um diálogo mais amplo sobre o futuro do processo de paz, ela foi por água abaixo com a decisão de Brasília de retirar o embaixador de Tel Aviv. E aí não cabe interpretação. Em negociação – ainda mais quando se trata de uma questão delicada como o conflito árabe-israelense e o conflito entre israelenses e palestinos, em particular –, os interlocutores devem ser aceitos pelas partes envolvidas. E ao tomar a posição de chamar o embaixador brasileiro de volta, o Brasil abriu um precedente para ser descartado por uma das partes interessadas de futuros diálogos que venham a existir.
É claro que ninguém é inocente de achar que o Brasil estava entre os cotados a ser protagonista da resolução do conflito entre israelenses e palestinos. Mas é igualmente importante lembrar que, não faz muito tempo, o Brasil deu um passo gigante (para usar o vocabulário desta disputa verbal) ao alcançar, junto com a Turquia, um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Este acordo foi solenemente ignorado pelos EUA, mas serviu para mostrar a capacidade brasileira de encontrar soluções criativas para impasses internacionais. Ou ao menos para ser considerado como interlocutor confiável.
Ao retirar seu embaixador de Tel Aviv, o governo brasileiro quis reforçar uma posição internacional e conquistar ainda mais simpatia de países que já são seus aliados. O problema disso é que ganhar credibilidade de quem já é aliado não faz diferença. Principalmente porque a principal ambição internacional brasileira é conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. E, para isso, é importante ter votos de quem é mais relevante. É preciso capitalizar com quem já é membro permanente neste fórum de tomada de decisões. Por isso, do ponto de vista estritamente pragmático, é pouco provável que a decisão brasileira tenha algum impacto positivo na viabilização de seu maior objetivo internacional.
2 comentários:
É bom ver que,emmeio a torrente de asneiras que assolam o mundo real e virtual, sempre podemos contar com Henry Galsky para uma opinião lúcida, equilibrada e ponderada!
E aí, Bruno! Cadê você? Me manda um email pra gente conversar. Fico feliz que tenha gostado.
Postar um comentário