Boa parte das análises considera que a atual Guerra entre Hamas e Israel não era de interesse das partes. Não neste momento. De qualquer maneira, mesmo tendo mais prejuízos de infraestrutura e pessoal, o Hamas é o maior beneficiário deste conflito.
Para chegar a esta conclusão, é preciso entender a linha de raciocínio do grupo. Seu objetivo de longo prazo não é o estabelecimento de um Estado palestino em Gaza e na Cisjordânia. Pelo menos formalmente, este é o objetivo da Autoridade Palestina, entidade criada a partir dos acordos de Oslo, em 1993, e reconhecida internacionalmente como porta-voz das demandas palestinas. O Hamas não se compromete com esses acordos, nem muito menos com o diálogo com Israel. Pelo contrário; o grupo não imagina qualquer tipo de convivência com Israel, mas sua destruição.
Digo isso porque em tempos de conflito é importante entender os objetivos estratégicos dos envolvidos, até para compreender a razão de suas ações. Mesmo tendo perdas práticas, o Hamas tem visão distinta sobre elas. Ao atacar Israel, espera mesmo o revide. Ao chamar Israel para dentro de Gaza, a região mais densamente povoada do planeta, conta com a morte de civis – considerada martírio para alcançar objetivos estratégicos de longo prazo.
O Hamas fez a leitura do cenário atual e entende, corretamente (sob seu ponto de vista), que a natureza das guerras mudou. Se não é possível derrotar Israel militarmente, é possível derrotar Israel em longo prazo, isolando cada vez mais o país. Assim, ao chamar Israel para o território, usa as mortes de civis para causar repúdio internacional ao país. Certamente, o Hamas não se importa com as mortes. Com nenhuma delas, podem ter certeza. A sempre condenável perda de vidas civis passa a ser um “patrimônio” usado na guerra virtual – onde o grupo tem derrotado Israel com frequência e com alguma facilidade. Essas mortes angariam simpatia ao grupo e condenações internacionais a Israel.
“Os quatro conflitos desde 2006 restauraram a reputação do Hamas como a ‘resistência’, construíram solidariedade na frente de batalha, aumentaram a dissidência entre judeus e árabes em Israel (...), causaram embaraço a líderes árabes seculares, garantiram novas resoluções condenatórias a Israel na ONU, inspiraram europeus a impor sanções mais severas a Israel, abriram frentes de condenação da Esquerda internacional ao Estado Judeu e conquistaram ajuda adicional do Irã”, escreve Daniel Pipes, diretor do Middle East Forum.
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