Este foi o segundo parágrafo do meu post de sexta-feira, comentando sobre a decisão brasileira de retirar seu embaixador de Tel Aviv:
“Para ser bem sucinto, o Brasil não é um anão diplomático. Até a própria imprensa de Israel reconhece isso. Com a ampliação de sua economia e dos esforços internacionais do governo Lula, seu protagonismo internacional também aumentou. Tanto que o país é liderança regional indiscutível. E se países isoladamente não fazem grande diferença – pelo menos a maioria deles, claro – , ninguém há de desprezar um continente inteiro. Como lembrou o Jerusalem Post, quando o Brasil reconheceu a formalização de um Estado palestino, em 2010, outros sul-americanos fizeram o mesmo”.
Como era esperado, a decisão brasileira foi seguida por outros países do continente americano. Nesta terça-feira, Chile e Peru decidiram retirar seus embaixadores de Israel. Na prática, há pouco impacto para a economia ou as decisões geopolíticas de Israel. A questão é o poder simbólico envolvido.
Desde o início desse conflito, venho dizendo que há um esforço das partes para revalidar suas agendas. Israel quer manter seu poder de dissuasão e aproveitou para impor o maior dano possível à infraestrutura do Hamas, especialmente aos complexos túneis subterrâneos que dão ao grupo a capacidade de receber armamento e também se infiltrar em território israelense. O Hamas reforça sua posição de resistência (termo sobre o qual escreverei num próximo post) e busca legitimidade interna e externa como ator regional não-estatal relevante. Além disso, reafirma sua posição histórica de não aceitar a continuidade da existência de Israel, seja agora, seja por meio de conversações futuras.
E aí retorno ao ponto da decisão dos países sul-americanos de retornar seus embaixadores em Israel. Quando fazem isso, de certa maneira fazem o jogo de longo prazo do Hamas. Como venho escrevendo, o grupo palestino sabe que, ao menos hoje, não tem capacidade militar de “destruir Israel”, como pede em sua carta de fundação. Se isso não é possível por razões óbvias, esvaziar as alianças israelenses e isolar o país do restante da comunidade internacional é um passo importante.
2 comentários:
Muito bom ler sua opinião sensata e racional, Galsky! Nos últimos dias, mais do que nunca, o Carta & Crônica tem sido um ótimo meio de informação a respeito da política e, sobretudo, dos conflitos internacionais.
Muito obrigado pelo comentário, Érika. Tenho tentado analisar cenários de uma maneira mais ampla. Fico feliz que esteja gostando.
Um beijo.
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