A decisão de Chile e Peru de retirarem seus embaixadores de Israel pode ter alguma relação com a polêmica envolvendo o Brasil e o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, Yigal Palmor.
É possível que Chile e Peru viessem a tomar a decisão de qualquer maneira. O Chile, inclusive, tem um fator político interno relevante: há cerca de 500 mil palestinos vivendo no país - membros, portanto, da maior comunidade palestina fora do Oriente Médio. Mas creio que a troca de farpas entre o porta-voz de Israel e a diplomacia brasileira pode ter contribuído para a decisão.
Ao optar por se posicionar de maneira irônica, Palmor agiu com o estômago, não com a racionalidade exigida pelo cargo que ocupa. E isso mostra seu despreparo de algumas formas: seu primeiro erro foi não ter tido a capacidade analítica de projetar como suas declarações seriam recebidas pela diplomacia brasileira; outra falha grave evidencia a falta de avaliação do poder de suas palavras sobre o imaginário brasileiro comum; em terceiro lugar, o aparente desconhecimento ao fazer tais declarações para o maior grupo de comunicação do Brasil – que, inclusive, realizou a primeira exibição repercutindo Palmor em seu principal telejornal; e, para finalizar, a incapacidade que aparenta ter de perceber que esta é uma guerra cujas derrotas nas disputas virtuais e nos meios de comunicação são tão ou mais importantes que no campo de batalha.
Todos esses erros de avaliação acabaram por inflamar o próprio posicionamento do governo brasileiro. É possível – e aí tomo o cuidado de deixar claro que esta é apenas uma possibilidade – que Brasília tenha articulado nos bastidores com seus parceiros latinos. Se for este o caso, se o Brasil de fato quiser provar na prática que as declarações do porta-voz israelense estavam erradas, Yigal Palmor vai ser diretamente responsável por uma derrota diplomática de grandes proporções. E tudo isso vai ter como origem o desconhecimento sobre o Brasil e sobre a própria imprensa brasileira.
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