A morte do rei saudita Abdullah bin Abdulaziz al Saud deixa um vácuo importante no Oriente Médio. Especialmente no momento em que a região se encontra diante de desafios para lá de complicados. A Arábia Saudita, especificamente, tem muitos interesses em jogo. Numa época de mudanças rápidas, a disputa entre os blocos sunita e xiita acontece por meio de “procuradores”.
Fazendo um resumo rápido, o Oriente Médio está dividido entre esses blocos de países e atores não-estatais; do lado sunita, as monarquias do Golfo, Egito, Jordânia. Considerado moderado, tem o apoio dos EUA. Do lado oposto, Irã, Turquia, Hezbollah e a Síria (pelo menos enquanto Bashar al-Assad conseguir se manter no cargo). O rei Abdullah era um dos principais articuladores do bloco sunita, além de homem forte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O objetivo principal dos sunitas é a manutenção do status quo regional, então toda possibilidade de mudança é ameaçadora.
Neste cenário, as distintas abordagens à Primavera Árabe (o mais relevante movimento popular no Oriente Médio) aprofundaram a disputa entre sunitas e xiitas. Grupos islâmicos mais organizados, como a Irmandade Muçulmana egípcia, entenderam que a derrubada dos ditadores regionais representaria a grande oportunidade para uma mudança de poder histórica. A relação entre esses grupos e os grandes patrocinadores estatais (Irã e Turquia) acabou por se transformar numa via de mão-dupla. E, naturalmente, também aprofundou a disputa com as monarquias do Golfo Pérsico – o grupo de atores estatais mais ameaçado por resultados significativos da Primavera Árabe. Na medida em que a onda popular de protestos foi incapaz de produzir lideranças independentes, acabou por se transformar em mais um foco da grande disputa regional.
Além deste jogo ainda em curso, a Arábia Saudita tem problemas sérios a enfrentar; entre eles, o combate ao Estado Islâmico (inimigo comum a todos), a manutenção dos grandes benefícios sociais à população do país apesar da queda do preço do barril de petróleo, e o esvaziamento do movimento rebelde xiita Houthi no vizinho Iêmen – que conta com o patrocínio do Irã, o principal inimigo da Arábia Saudita e das monarquias do Golfo. Além disso tudo, a parceria histórica dos sauditas com os EUA atravessa momento complicado. Quanto mais Obama reforça sua intenção de negociar com os iranianos, mais a Arábia Saudita se sente ameaçada.
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