Há quem vincule dois acontecimentos desses últimos dias. O assassinato do procurador argentino Alberto Nisman e o ataque israelense a um comboio militar do Hezbollah na Síria. O ataque de Israel aconteceu horas antes do assassinato de Nisman em Buenos Aires.
Como se sabe, Nisman acusava o Irã pelo atentado à AMIA, em 1994. O governo iraniano teria realizado o atentado terrorista por meio de agentes do Hezbollah, a milícia xiita baseada no sul do Líbano. No ataque de Israel ao comboio militar do Hezbollah, seis membros da milícia morreram, além de seis militares iranianos, inclusive o general Mohammad Allahdadi, da Guarda Revolucionária iraniana. Israel não comenta o caso, mas, aos poucos, novas informações surgem, ajudando a mapear o cenário. De acordo com reportagem de Amos Harel publicada no Haaretz, a comitiva parou diversas vezes e teria chegado, inclusive, a apenas 300 metros da fronteira com Israel – no lado sírio das Colinas de Golã. O objetivo seria levantar dados operacionais para realizar ataques a Israel.
Teoricamente, parte da situação está esclarecida. Por mais atraente que seja a tese vinculando o assassinato de Nisman aos acontecimentos no Oriente Médio daquele mesmo 18 de janeiro, ainda não há como comprová-la. Claro que esta é uma possibilidade, mas ainda não há evidências suficientes. Por ora, acho que sobram perguntas em relação ao comboio do Hezbollah: o que membros do grupo faziam na Síria ao lado de membros do alto escalão militar iraniano? Quais os objetivos estratégicos envolvendo a presença de Irã e Hezbollah na Síria? O que a comunidade internacional faria caso em algum momento o Hezbollah lançasse ataques a Israel a partir da Síria?
É claro que são perguntas retóricas, na medida em que, informalmente, há respostas a todas elas. O governo de Bashar al-Assad, o Irã e o Hezbollah estão juntos na luta pela manutenção do regime sírio diante da ofensiva dos inúmeros grupos rebeldes que lutam no país. Há muito tempo, Assad e o Irã decidiram transferir parte do arsenal militar sírio ao Hezbollah, temendo a derrubada do regime. Caso o Hezbollah ataque Israel a partir do lado sírio das colinas de Golã, nada será feito pela comunidade internacional. Da mesma maneira que a UNIFIL (Força Interina das Nações Unidas no Líbano) jamais conseguiu impedir o lançamento de mísseis pelo Hezbollah no sul do Líbano, a UNDOF (missão de observação da ONU no Golã – foto) não deverá conseguir conter eventuais agressões na região. Além disso, considerando a inabilidade das chamadas potências internacionais de abordarem a guerra civil síria, não é difícil concluir que o Golã está livre.
Para completar, o Irã está em negociações com essas mesmas potências. Em busca de algum resultado significativo nas questões do Oriente Médio, é provável também que esses países decidam ignorar todas as variáveis mencionadas acima em nome do pragmatismo.
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