O atentado à revista francesa Charlie Hebdo acontece num momento delicado. Ao ampliar o cenário, fica fácil perceber a gravidade das consequências da ação dos três terroristas.
Na Alemanha, por exemplo, a imigração de refugiados da guerra civil síria tem dividido o país, gerando manifestações contrárias à absorção daqueles que fogem do conflito. Como de costume, a extrema-direita tem se aproveitado da situação para se fazer presente, polarizando as posições. O grupo chamado de Pegida (em alemão, o significado da sigla não poderia ser mais alarmante: “Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente”) reúne radicais de muitas fidelidades – o que é especialmente delicado na Alemanha.
A partir de agora, existe a possibilidade de que movimentos deste tipo ganhem força. Acrescente-se ao atentado terrorista a situação de fragilidade econômica europeia e fica fácil perceber o desafio que os governos nacionais da Europa precisarão enfrentar. Na França, a população irá cobrar respostas do presidente François Hollande. Na esteira do que está por vir, é possível que o partido de extrema-direita Frente Nacional tente capitalizar. Aliás, todos os partidos de extrema-direita – as legendas já estavam conseguindo resultados políticos importantes graças à crise econômica.
Talvez os três atiradores não tivessem a mínima capacidade de análise quando decidiram realizar o ataque à revista, mas é evidente que a espiral de consequências mostra um resultado simples: os diferentes radicalismos se retroalimentam. No caso, o terrorismo fundamentalista islâmico impulsiona a extrema-direita. Esta tem sido, aliás, a dinâmica a marcar as relações entre os grupos radicais neste século 21. E é claro que a extrema-direita europeia e o fundamentalismo islâmico sempre se regozijam quando a polarização se aprofunda e a violência grita mais alto que a racionalidade.
E no meio deste confronto entre radicalismos estão os cidadãos comuns – os que mais sofrem as consequências de atos e reações.
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