O mundo anda pequeno demais. Se há alguma vantagem nisso, há certamente muitas desvantagens. Em questões de segurança, por exemplo, a facilidade de tráfego de pessoas e tráfico de armamento, por exemplo, são grandes desvantagens. Os acontecimentos recentes mostram isso; está cada dia mais banal conseguir uma Kalashnikov. Como ilustração pontual deste cenário, um dos protagonistas dos atentados em Paris comprou seu armamento com facilidade na Bélgica. Esta não é uma questão especialmente belga, mas as fronteiras frouxas permitem fluxo de entrada e saída de armamento em toda a Europa.
Há outros elementos que contribuem para dificultar o combate ao terrorismo: a grande quantidade de europeus que têm se filiado aos grupos terroristas internacionais. As estimativas são de que entre três e cinco mil cidadãos da União Europeia tenham ido lutar na Síria ao lado do Estado Islâmico. E após receberem treinamento e passar por intensa mobilização de discurso, devem retornar para casa. Prontos para agir, claro. Nesta quinta-feira, as forças de segurança belgas impediram que fosse colocado em prática um ataque no país. De acordo com os veículos internacionais, os atentados foram frustrados muito pouco tempo antes de serem realizados.
Até este momento, o Estado Islâmico não havia executado atentados na Europa, muito embora o discurso do grupo não seja restrito ao Oriente Médio (o objetivo final é a construção do califado islâmico, inclusive em regiões da Europa). Talvez, esta mudança na abordagem seja fruto dos acontecimentos das últimas semanas – as ações dos terroristas franceses passaram a ser alvo de disputa entre al-Qaeda e Estado Islâmico. A partir de agora, não faz mais diferença se eles agiram como os chamados “lobos solitários” ou se fato eram vinculados a essas organizações fundamentalistas e extremistas islâmicas. Parece que Estado Islâmico e al-Qaeda retomaram seu interesse pelo território europeu a partir da “demanda” desses terroristas que agem a partir da inspiração desses grupos. De certa maneira, al-Qaeda e Estado Islâmico aplicam uma espécie de “lógica capitalista” em que as empresas decidem agir onde há apelo de seus clientes.
Como funcionários voluntários, os europeus que correram para se juntar às fileiras dos terroristas no Oriente Médio acabaram por influenciar na tomada de decisões de seus “patrões”. Agora, a partir do imenso poder da narrativa do Estado Islâmico, o grupo parece ter uma enorme vontade de realizar um grande atentado na Europa – claro, para atender às expectativas de parte do bando.
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