A ideia do presidente palestino, Mahmoud Abbas, de se filiar ao Tribunal Penal Internacional (TPI) mostra como a liderança política palestina precisa de algum ganho real. Com a popularidade do Hamas em alta, Abbas entendeu que era necessário conseguir ao menos um resultado relevante para ser usado publicamente de forma a retomar seu prestígio bastante abalado durante o ano de 2014. Mesmo diante das perdas humanas e de infraestrutura em Gaza, o Hamas ainda sim conseguiu a manutenção de seu status diante da população palestina. O conceito de “resistência” a partir de ataques com mísseis lançados contra Israel permanece como narrativa aderente.
Em boa medida, isso mostra o fracasso de visão estratégica das lideranças políticas oficiais de israelenses e palestinos. Ao enfraquecer a Autoridade Palestina, de Abbas, e terminar a guerra em Gaza com um acordo com o Hamas, Benjamin Netanyahu acabou por fortalecer o grupo terrorista baseado em Gaza. A ideia de Netanyahu parece ser a de deixar a situação do jeito que está, mantendo o impasse político e, a cada dois anos, respondendo aos mísseis lançados pelos Hamas. Se isso lhe permite continuar à frente do governo de Israel, por outro lado impede que a disputa entre israelenses e palestinos seja resolvida em bases políticas sólidas – e encerrar o conflito é certamente o interesse das população de Israel e dos territórios palestinos. O processo de paz está parado em função destes aspectos; da falta de vontade política de Netanyahu e da falta de visão estratégica de Abbas, que não percebe suas oportunidades políticas e acaba fazendo o jogo deste governo de Israel – ao se filiar ao TPI, a Autoridade Palestina certamente dá a Netanyahu um argumento forte o bastante para que se mantenha distante da mesa de negociações.
Considerando que existe a possibilidade de um novo cenário em Israel, talvez Abbas pudesse tomar medidas políticas mais contundentes a partir do resultado das próximas eleições israelenses marcadas para o próximo mês de março. Há novos partidos surgindo em Israel e novas possibilidades de coalizão. Seria interessante aguardar, uma vez que há chances de lideranças políticas israelenses mais interessadas na retomada do processo de paz fazerem parte do próximo governo, caso da ex-ministra da Justiça Tzipi Livni (foto), por exemplo, que coordena um bloco de centro-esquerda com Isaac Herzog, líder do Partido Trabalhista israelense.
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