quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O cenário político na Nigéria

Existe a possibilidade real de a situação na Nigéria piorar. Os ataques promovidos pelo Boko Haram também buscam aumentar a tensão e, como objetivo máximo, impossibilitar a disputa política nas urnas. A ideia de transformar a maior economia africana num califado passa pela destruição de seus aparatos de Estado. Nada mais simbólico do que dificultar a realização de eleições numa forma de minar um dos principais instrumentos de um governo secular. 

“O que acontece na Nigéria nos afetada a todos, não somente na África Ocidental, mas em toda a África”, disse o ex-secretário Geral da ONU Kofi Annan durante conferência na cidade de Abuja, capital nigeriana. O evento contou com as presenças do presidente Goodluck Jonathan e de seu adversário nas eleições de fevereiro, o candidato de oposição Muhammad Buhari. As eleições estão ameaçadas não apenas pelo Boko Haram, mas pelas suspeitas de fraude. De acordo com pesquisa do instituto Gallup, somente 8% da população do país confiam no processo eleitoral. 

Nesta quarta, escrevi sobre o Boko Haram e como o presidente Jonathan tem feito o possível para encobrir os atentados. Interessado na reeleição, ele percebe que sua taxa de aprovação tem lhe escorrido pelas mãos. Em setembro de 2014, o índice chegou ao recorde de 74%, graças ao efetivo combate do governo ao vírus Ebola. Agora, caiu para 55%. O presidente Jonathan acredita que, quanto maior a exposição dos atentados cometidos pelo Boko Haram, mais complicada fica sua corrida rumo a um novo mandato. Isso explica a razão pela qual foi um dos primeiros líderes estrangeiros a condenar os atentados na França, mas, por outro lado, ainda não se pronunciou oficialmente sobre os ataques terroristas em seu próprio país. 

A quem ainda acredita na oposição pura e simples entre adversários políticos, vale uma curta menção ao passado político do candidato que busca derrotar Goodluck Jonathan. Muhammad Buhari foi presidente da Nigéria nos anos 1980. Na época, exerceu o cargo como general das forças armadas entre 1984 e 1985. Foi derrubado por um golpe que iniciou o caminho da democracia no país – mesmo que os cidadãos da Nigéria ainda não acreditem muito nela, claro. 

É este ambiente que envolve as questões políticas e o negligente combate interno ao Boko Haram. Fica difícil ser otimista. 

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