A visita de papa Ratzinger a Israel, Jordânia e aos territórios controlados pela Autoridade Palestina levantou uma série de questionamentos. O passado de Bento XVI voltou ao centro das discussões. A mensagem da figura mais importante do catolicismo foi de paz, mas também política, já que defendeu a criação de um Estado palestino. Esse é um discurso internacionalmente aceito e inclusive bandeira diplomática do Brasil, por exemplo, além de ponto central da política externa americana.
Mas se é para entrar neste assunto, acho que é mais do que chegada a hora de resolver a questão. E aí meu ponto de vista é bastante parecido ao de Michael Bar-Zohar, ex-membro trabalhista do parlamento israelense e biógrafo oficial de David Ben-Gurion e Shimon Peres.
A solução para o conflito entre israelenses e palestinos é regional. Ele não vai ser encerrado simplesmente com a declaração de independência da futura Palestina, além do estabelecimento de fronteiras seguras em Gaza e Cisjordânia.
Mesmo que tudo isso seja resolvido, mesmo que idilicamente israelenses e palestinos cheguem a um acordo sobre questões complicadíssimas como refugiados e Jerusalém (os dois principais pontos de dissonância que impedem mesmo um acerto definitivo), o problema ainda não estará resolvido. Muito pelo contrário. Haverá um intervalo repleto de canções bonitas, imagens chorosas e promessas de um futuro glorioso. Em seguida, novos conflitos irão ocorrer motivados por questões distintas.
Um Estado palestino em Gaza e Cisjordânia é economicamente inviável. Haverá desemprego, superpopulação e descontentamento. Imaginem os cerca de 800 mil palestinos e seus descendentes retornando para um dos menores países do mundo já habitado por 1,5 milhão de pessoas em Gaza e 2,4 milhões na Cisjordânia? Lembrando apenas que a área somada entre o Estado de Israel, Gaza e Cisjordânia corresponde a cerca de metade do Estado do Rio de Janeiro. Está formado invariavelmente o cenário para o caos. E alguém duvida que o extremismo se fortaleceria neste caso?
A solução defendida por Bar-Zohar – e com a qual eu concordo – é: os países vizinhos precisam colaborar. No caso, os que parecem já estar comprometidos com a paz há mais tempo, como Jordânia e Egito. Junto com a futura Palestina, seria formada uma federação, com a subpovoada Jordânia cedendo território e Egito abrindo mão de parte da inabitada porção norte do Deserto do Sinai, entre El-Arish e Rafah. Lembrando que já hoje boa parte da população jordaniana é formada por palestinos.
O lenga-lenga de dois Estados para dois povos pode parecer bonito. Mas não resolve nada definitivamente. Chegou o momento de a criatividade ser aplicada também na solução de um conflito complexo e que precisa de opções viáveis e inéditas para terminar. Resta saber se Egito e Jordânia teriam coragem e vontade para tomar as rédeas e passar para a história como protagonistas desta super positiva virada de mesa.
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